1 Em minha primeira narração, ó Teófilo, contei toda a seqüência das ações e dos ensinamentos de Jesus, 2 desde o princípio até o dia em que, depois de ter dado pelo Espírito Santo suas instruções aos apóstolos que escolhera, foi arrebatado (ao céu). 3 E a eles se manifestou vivo depois de sua Paixão, com muitas provas, aparecendo-lhes durante quarenta dias e falando das coisas do Reino de Deus. 4 E comendo com eles, ordenou-lhes que não se afastassem de Jerusalém, mas que esperassem o cumprimento da promessa de seu Pai, que ouvistes, disse ele, da minha boca; 5 porque João batizou na água, mas vós sereis batizados no Espírito Santo daqui há poucos dias. 6 Assim reunidos, eles o interrogavam: Senhor, é porventura agora que ides instaurar o reino de Israel? 7 Respondeu-lhes ele: Não vos pertence a vós saber os tempos nem os momentos que o Pai fixou em seu poder, 8 mas descerá sobre vós o Espírito Santo e vos dará força; e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria e até os confins do mundo. 9 Dizendo isso elevou-se da (terra) à vista deles e uma nuvem o ocultou aos seus olhos.. 10 Enquanto o acompanhavam com seus olhares, vendo-o afastar-se para o céu, eis que lhes apareceram dois homens vestidos de branco, que lhes disseram: 11 Homens da Galiléia, por que ficais aí a olhar para o céu? Esse Jesus que acaba de vos ser arrebatado para o céu voltará do mesmo modo que o vistes subir para o céu. 12 Voltaram eles então para Jerusalém do monte chamado das Oliveiras, que fica perto de Jerusalém, distante uma jornada de sábado. 13 Tendo entrado no cenáculo, subiram ao quarto de cima, onde costumavam permanecer. Eram eles: Pedro e João, Tiago, André, Filipe, Tomé, Bartolomeu, Mateus, Tiago, filho de Alfeu, Simão, o Zelador, e Judas, irmão de Tiago. 14 Todos eles perseveravam unanimemente na oração, juntamente com as mulheres, entre elas Maria, mãe de Jesus, e os irmãos dele. 15 Num daqueles dias, levantou-se Pedro no meio de seus irmãos, na assembléia reunida que constava de umas cento e vinte pessoas, e disse: 16 Irmãos, convinha que se cumprisse o que o Espírito Santo predisse na escritura pela boca de Davi, acerca de Judas, que foi o guia daqueles que prenderam Jesus. 17 Ele era um dos nossos e teve parte no nosso ministério. 18 Este homem adquirira um campo com o salário de seu crime. Depois, tombando para a frente, arrebentou-se pelo meio, e todas as suas entranhas se derramaram. 19 (Tornou-se este fato conhecido dos habitantes de Jerusalém, de modo que aquele campo foi chamado na língua deles Hacéldama, isto é, Campo de Sangue.) 20 Pois está escrito no livro dos Salmos: Fique deserta a sua habitação, e não haja quem nela habite; e ainda mais: Que outro receba o seu cargo (Sl 68,26; 108,8). 21 Convém que destes homens que têm estado em nossa companhia todo o tempo em que o Senhor Jesus viveu entre nós, 22 a começar do batismo de João até o dia em que do nosso meio foi arrebatado, um deles se torne conosco testemunha de sua Ressurreição. 23 Propuseram dois: José, chamado Barsabás, que tinha por sobrenome Justo, e Matias. 24 E oraram nestes termos: Ó Senhor, que conheces os corações de todos, mostra-nos qual destes dois escolheste 25 para tomar neste ministério e apostolado o lugar de Judas que se transviou, para ir para o seu próprio lugar. 26 Deitaram sorte e caiu a sorte em Matias, que foi incorporado aos onze apóstolos.
1 Chegando o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar. 2 De repente, veio do céu um ruído, como se soprasse um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam sentados. 3 Apareceu-lhes então uma espécie de línguas de fogo que se repartiram e pousaram sobre cada um deles. 4 Ficaram todos cheios do Espírito Santo e começaram a falar em línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem. 4 l Os que receberam a sua palavra foram batizados. E naquele dia elevou-se a mais ou menos três mil o número dos adeptos. 5 Achavam-se então em Jerusalém judeus piedosos de todas as nações que há debaixo do céu. 6 Ouvindo aquele ruído, reuniu-se muita gente e maravilhava-se de que cada um os ouvia falar na sua própria língua. 7 Profundamente impressionados, manifestavam a sua admiração: Não são, porventura, galileus todos estes que falam? 8 Como então todos nós os ouvimos falar, cada um em nossa própria língua materna? 9 Partos, medos, elamitas; os que habitam a Macedônia, a Judéia, a Capadócia, o Ponto, a Ásia, 10 a Frígia, a Panfília, o Egito e as províncias da Líbia próximas a Cirene; peregrinos romanos, 11 judeus ou prosélitos, cretenses e árabes; ouvimo-los publicar em nossas línguas as maravilhas de Deus! 12 Estavam, pois, todos atônitos e, sem saber o que pensar, perguntavam uns aos outros: Que significam estas coisas? 13 Outros, porém, escarnecendo, diziam: Estão todos embriagados de vinho doce. 14 Pedro então, pondo-se de pé em companhia dos Onze, com voz forte lhes disse: Homens da Judéia e vós todos que habitais em Jerusalém: seja-vos isto conhecido e prestai atenção às minhas palavras. 15 Estes homens não estão embriagados, como vós pensais, visto não ser ainda a hora terceira do dia. 16 Mas cumpre-se o que foi dito pelo profeta Joel: 17 Acontecerá nos últimos dias - é Deus quem fala -, que derramarei do meu Espírito sobre todo ser vivo: profetizarão os vossos filhos e as vossas filhas. Os vossos jovens terão visões, e os vossos anciãos sonharão. 18 Sobre os meus servos e sobre as minhas servas derramarei naqueles dias do meu Espírito e profetizarão. 19 Farei aparecer prodígios em cima, no céu, e milagres embaixo, na terra: sangue fogo e vapor de fumaça. 20 O sol se converterá em trevas e a lua em sangue, antes que venha o grande e glorioso dia do Senhor. 21 E então todo o que invocar o nome do Senhor será salvo (Jl 3,1-5). 22 Israelitas, ouvi estas palavras: Jesus de Nazaré, homem de quem Deus tem dado testemunho diante de vós com milagres, prodígios e sinais que Deus por ele realizou no meio de vós como vós mesmos o sabeis, 23 depois de ter sido entregue, segundo determinado desígnio e presciência de Deus, vós o matastes, crucificando-o por mãos de ímpios. 24 Mas Deus o ressuscitou, rompendo os grilhões da morte, porque não era possível que ela o retivesse em seu poder. 25 Pois dele diz Davi: Eu via sempre o Senhor perto de mim, pois ele está à minha direita, para que eu não seja abalado. 26 Alegrou-se por isso o meu coração e a minha língua exultou. Sim, também a minha carne repousará na esperança, 27 pois não deixarás a minha alma na região dos mortos, nem permitirás que o teu santo conheça a corrupção. 28 Fizeste-me conhecer os caminhos da vida, e me encherás de alegria com a visão de tua face (Sl 15,8-11). 29 Irmãos, seja permitido dizer-vos com franqueza: do patriarca Davi dizemos que morreu e foi sepultado, e o seu sepulcro está entre nós até o dia de hoje. 30 Mas ele era profeta e sabia que Deus lhe havia jurado que um dos seus descendentes seria colocado no seu trono. 31 É, portanto, a ressurreição de Cristo que ele previu e anunciou por estas palavras: Ele não foi abandonado na região dos mortos, e sua carne não conheceu a corrupção. 32 A este Jesus, Deus o ressuscitou: do que todos nós somos testemunhas. 33 Exaltado pela direita de Deus, havendo recebido do Pai o Espírito Santo prometido, derramou-o como vós vedes e ouvis. 34 Pois Davi pessoalmente não subiu ao céu, todavia diz: O Senhor disse a meu Senhor: Senta-te à minha direita 35 até que eu ponha os teus inimigos por escabelo dos teus pés (Sl 109,1). 36 Que toda a casa de Israel saiba, portanto, com a maior certeza de que este Jesus, que vós crucificastes, Deus o constituiu Senhor e Cristo. 37 Ao ouvirem essas coisas, ficaram compungidos no íntimo do coração e indagaram de Pedro e dos demais apóstolos: Que devemos fazer, irmãos? 38 Pedro lhes respondeu: Arrependei-vos e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo. 39 Pois a promessa é para vós, para vossos filhos e para todos os que ouvirem de longe o apelo do Senhor, nosso Deus. 40 Ainda com muitas outras palavras exortava-os, dizendo: Salvai-vos do meio dessa geração perversa! 42 Perseveravam eles na doutrina dos apóstolos, na reunião em comum, na fração do pão e nas orações. 43 De todos eles se apoderou o temor, pois pelos apóstolos foram feitos também muitos prodígios e milagres em Jerusalém e o temor estava em todos os corações. 44 Todos os fiéis viviam unidos e tinham tudo em comum. 45 Vendiam as suas propriedades e os seus bens, e dividiam-nos por todos, segundo a necessidade de cada um. 46 Unidos de coração freqüentavam todos os dias o templo. Partiam o pão nas casas e tomavam a comida com alegria e singeleza de coração, 47 louvando a Deus e cativando a simpatia de todo o povo. E o Senhor cada dia lhes ajuntava outros que estavam a caminho da salvação.
1 Pedro e João iam subindo ao templo para rezar à hora nona. 2 Nisto levavam um homem que era coxo de nascença e que punham todos os dias à porta do templo, chamada Formosa, para que pedisse esmolas aos que entravam no templo. 3 Quando ele viu que Pedro e João iam entrando no templo, implorou a eles uma esmola. 4 Pedro fitou nele os olhos, como também João, e disse: Olha para nós. 5 Ele os olhou com atenção esperando receber deles alguma coisa. 6 Pedro, porém, disse: Não tenho nem ouro nem prata, mas o que tenho eu te dou: em nome de Jesus Cristo Nazareno, levanta-te e anda! 7 E tomando-o pela mão direita, levantou-o. Imediatamente os pés e os tornozelos se lhe firmaram. De um salto pôs-se de pé e andava. 8 Entrou com eles no templo, caminhando, saltando e louvando a Deus. 9 Todo o povo o viu andar e louvar a Deus. 10 Reconheceram ser o mesmo coxo que se sentava para mendigar à porta Formosa do templo, e encheram-se de espanto e pasmo pelo que lhe tinha acontecido. 11 Como ele se conservava perto de Pedro e João, uma multidão de curiosos afluiu a eles no pórtico chamado Salomão. 12 À vista disso, falou Pedro ao povo: Homens de Israel, por que vos admirais assim? Ou por que fitais os olhos em nós, como se por nossa própria virtude ou piedade tivéssemos feito este homem andar? 13 O Deus de Abraão, de Isaac, de Jacó, o Deus de nossos pais glorificou seu servo Jesus, que vós entregastes e negastes perante Pilatos, quando este resolvera soltá-lo. 14 Mas vós renegastes o Santo e o Justo e pedistes que se vos desse um homicida. 15 Matastes o Príncipe da vida, mas Deus o ressuscitou dentre os mortos: disso nós somos testemunhas. 16 Em virtude da fé em seu nome foi que esse mesmo nome consolidou este homem, que vedes e conheceis. Foi a fé em Jesus que lhe deu essa cura perfeita, à vista de todos vós. 17 Agora, irmãos, sei que o fizestes por ignorância, como também os vossos chefes. 18 Deus, porém, assim cumpriu o que já antes anunciara pela boca de todos os profetas: que o seu Cristo devia padecer. 19 Arrependei-vos, portanto, e convertei-vos para serem apagados os vossos pecados. 20 Virão, assim, da parte do Senhor os tempos de refrigério, e ele enviará aquele que vos é destinado: Cristo Jesus. 21 É necessário, porém, que o céu o receba até os tempos da restauração universal, da qual falou Deus outrora pela boca dos seus santos profetas. 22 Já dissera Moisés: O Senhor, nosso Deus, vos suscitará dentre vossos irmãos um profeta semelhante a mim: a este ouvireis em tudo o que ele vos disser. 23 Todo aquele que não ouvir esse profeta será exterminado do meio do povo (Dt 18,15.19). 24 Todos os profetas, que têm falado sucessivamente desde Samuel, anunciaram estes dias. 25 Vós sois filhos dos profetas e da aliança que Deus estabeleceu com os nossos pais, quando disse a Abraão: Na tua descendência serão abençoadas todas as famílias da terra (Gn 22,18). 26 Foi em primeiro lugar para vós que Deus suscitou o seu servo, para vos abençoar, a fim de que cada um se aparte da sua iniqüidade.
1 Enquanto eles falavam ao povo, vieram os sacerdotes, o chefe do templo e os saduceus, 2 contrariados porque ensinavam ao povo e anunciavam, na pessoa de Jesus, a ressurreição dos mortos. 3 Prenderam-nos e os meteram no cárcere até o outro dia, pois já era tarde. 4 Muitos, porém, dos que tinham ouvido a pregação creram; e o número dos fiéis elevou-se a mais ou menos cinco mil. 5 No dia seguinte reuniram-se em Jerusalém os chefes do povo, os anciãos, os escribas, 6 com Anás, sumo sacerdote, Caifás, João, Alexandre e todos os que eram da linhagem pontifical. 7 Colocando-os no meio, perguntaram: Com que poder ou em que nome fizestes isso? 8 Então Pedro, cheio do Espírito Santo, respondeu-lhes: Chefes do povo e anciãos, ouvi-me: 9 se hoje somos interrogados a respeito do benefício feito a um enfermo, e em que nome foi ele curado, 10 ficai sabendo todos vós e todo o povo de Israel: foi em nome de Jesus Cristo Nazareno, que vós crucificastes, mas que Deus ressuscitou dos mortos. Por ele é que esse homem se acha são, em pé, diante de vós. 11 Esse Jesus, pedra que foi desprezada por vós, edificadores, tornou-se a pedra angular. 12 Em nenhum outro há salvação, porque debaixo do céu nenhum outro nome foi dado aos homens, pelo qual devamos ser salvos. 13 Vendo eles a coragem de Pedro e de João, e considerando que eram homens sem estudo e sem instrução, admiravam-se. Reconheciam-nos como companheiros de Jesus. 14 Mas vendo com eles o homem que tinha sido curado, não puderam replicar. 15 Mandaram que se retirassem da sala do conselho, e conferenciaram entre si: 16 Que faremos destes homens? Porquanto o milagre por eles feito se tornou conhecido de todos os habitantes de Jerusalém, e não o podemos negar. 17 Todavia, para que esta notícia não se divulgue mais entre o povo, proibamos com ameaças, que no futuro falem a alguém nesse nome. 18 Chamaram-nos e ordenaram-lhes que absolutamente não falassem nem ensinassem em nome de Jesus. 19 Responderam-lhes Pedro e João: Julgai-o vós mesmos se é justo diante de Deus obedecermos a vós mais do que a Deus. 20 Não podemos deixar de falar das coisas que temos visto e ouvido. 21 Eles então, ameaçando-os de novo, soltaram-nos, não achando pretexto para os castigar por causa do povo, porque todos glorificavam a Deus pelo que tinha acontecido. 22 Pois já passava dos 40 anos o homem em quem se realizara essa cura milagrosa. 23 Postos em liberdade, voltaram aos seus irmãos e referiram tudo quanto lhes tinham dito os sumos sacerdotes e os anciãos. 24 Ao ouvirem isso, levantaram unânimes a voz a Deus e disseram: Senhor, vós que fizestes o céu, a terra, o mar e tudo o que neles há. 25 Vós que, pelo Espírito Santo, pela boca de nosso pai Davi, vosso servo, dissestes: Por que se agitam as nações, e imaginam os povos coisas vãs? 26 Levantam-se os reis da terra, e os príncipes se reúnem em conselho contra o Senhor e contra o seu Cristo (Sl 2,1s.). 27 Pois na verdade se uniram nesta cidade contra o vosso santo servo Jesus, que ungistes, Herodes e Pôncio Pilatos com as nações e com o povo de Israel, 28 para executarem o que a vossa mão e o vosso conselho predeterminaram que se fizesse. 29 Agora, pois, Senhor, olhai para as suas ameaças e concedei aos vossos servos que com todo o desassombro anunciem a vossa palavra. 30 Estendei a vossa mão para que se realizem curas, milagres e prodígios pelo nome de Jesus, vosso santo servo! 31 Mal acabavam de rezar, tremeu o lugar onde estavam reunidos. E todos ficaram cheios do Espírito Santo e anunciaram com intrepidez a palavra de Deus. 32 A multidão dos fiéis era um só coração e uma só alma. Ninguém dizia que eram suas as coisas que possuía, mas tudo entre eles era comum. 33 Com grande coragem os apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus. Em todos eles era grande a graça. 34 Nem havia entre eles nenhum necessitado, porque todos os que possuíam terras e casas vendiam-nas, 35 e traziam o preço do que tinham vendido e depositavam-no aos pés dos apóstolos. Repartia-se então a cada um deles conforme a sua necessidade. 36 Assim José (a quem os apóstolos deram o sobrenome de Barnabé que quer dizer Filho da Consolação), levita natural de Chipre, possuía um campo. 37 Vendeu-o e trouxe o valor dele e depositou aos pés dos apóstolos.
1 Um certo homem chamado Ananias, de comum acordo com sua mulher Safira, vendeu um campo 2 e, combinando com ela, reteve uma parte da quantia da venda. Levando apenas a outra parte, depositou-a aos pés dos apóstolos. 3 Pedro, porém, disse: Ananias, por que tomou conta Satanás do teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo e enganasses acerca do valor do campo? 4 Acaso não o podias conservar sem vendê-lo? E depois de vendido, não podias livremente dispor dessa quantia? Por que imaginaste isso em teu coração? Não foi aos homens que mentiste, mas a Deus. 5 Ao ouvir estas palavras, Ananias caiu morto. Apoderou-se grande terror de todos os que o ouviram. 6 Uns moços retiraram-no dali, levaram-no para fora e o enterraram. 7 Depois de umas três horas, entrou também sua mulher, nada sabendo do ocorrido. 8 Pedro perguntou-lhe: Dize-me, mulher. Foi por tanto que vendestes o vosso campo? Respondeu ela: Sim, por esse preço. 9 Replicou Pedro: Por que combinastes para pôr à prova o Espírito do Senhor? Estão ali à porta os pés daqueles que sepultaram teu marido. Hão de levar-te também a ti. 10 Imediatamente caiu aos seus pés e expirou. Entrando aqueles moços, acharam-na morta. Levaram-na para fora e a enterraram junto do seu marido. 11 Sobreveio grande pavor a toda a comunidade e a todos os que ouviram falar desse acontecimento. 12 Enquanto isso, realizavam-se entre o povo pelas mãos dos apóstolos muitos milagres e prodígios. Reuniam-se eles todos unânimes no pórtico de Salomão. 13 Dos outros ninguém ousava juntar-se a eles, mas o povo lhes tributava grandes louvores. 14 Cada vez mais aumentava a multidão dos homens e mulheres que acreditavam no Senhor. 15 De maneira que traziam os doentes para as ruas e punham-nos em leitos e macas, a fim de que, quando Pedro passasse, ao menos a sua sombra cobrisse alguns deles. 16 Também das cidades vizinhas de Jerusalém afluía muita gente, trazendo os enfermos e os atormentados por espíritos imundos, e todos eles eram curados. 17 Levantaram-se então os sumos sacerdotes e seus partidários (isto é, a seita dos saduceus) cheios de inveja, 18 e deitaram as mãos nos apóstolos e meteram-nos na cadeia pública. 19 Mas um anjo do Senhor abriu de noite as portas do cárcere e, conduzindo-os para fora, disse-lhes: 20 Ide e apresentai-vos no templo e pregai ao povo as palavras desta vida. 21 Obedecendo a essa ordem, eles entraram ao amanhecer, no templo, e puseram-se a ensinar. Enquanto isso, o sumo sacerdote e os seus partidários reuniram-se e convocaram o Grande Conselho e todos os anciãos de Israel, e mandaram trazer os apóstolos do cárcere. 22 Dirigiram-se para lá os guardas, mas ao abrirem o cárcere, não os encontraram, e voltaram a informar: 23 Achamos o cárcere fechado com toda segurança e os guardas de pé diante das portas, e, no entanto, abrindo-as, não achamos ninguém lá dentro. 24 A essa notícia, os sumos sacerdotes e o chefe do templo ficaram perplexos e indagaram entre si sobre o que significava isso. 25 Mas, nesse momento, alguém transmitiu-lhes esta notícia: Aqueles homens que metestes no cárcere estão no templo ensinando o povo! 26 Foi então o comandante do templo com seus guardas e trouxe-os sem violência, porque temiam ser apedrejados pelo povo. 27 Trouxeram-nos e os introduziram no Grande Conselho, onde o sumo sacerdote os interrogou, dizendo: 28 Expressamente vos ordenamos que não ensinásseis nesse nome. Não obstante isso, tendes enchido Jerusalém de vossa doutrina! Quereis fazer recair sobre nós o sangue deste homem! 29 Pedro e os apóstolos replicaram: Importa obedecer antes a Deus do que aos homens. 30 O Deus de nossos pais ressuscitou Jesus, que vós matastes, suspendendo-o num madeiro. 31 Deus elevou-o pela mão direita como Príncipe e Salvador, a fim de dar a Israel o arrependimento e a remissão dos pecados. 32 Deste fato nós somos testemunhas, nós e o Espírito Santo, que Deus deu a todos aqueles que lhe obedecem. 33 Ao ouvirem essas palavras, enfureceram-se e resolveram matá-los. 34 Levantou-se, porém, um membro do Grande Conselho. Era Gamaliel, um fariseu, doutor da lei, respeitado por todo o povo. 35 Mandou que se retirassem aqueles homens por um momento, e então lhes disse: Homens de Israel, considerai bem o que ides fazer com estes homens. 36 Faz algum tempo apareceu um certo Teudas, que se considerava um grande homem. A ele se associaram cerca de quatrocentos homens: foi morto e todos os seus partidários foram dispersados e reduzidos a nada. 37 Depois deste, levantou-se Judas, o galileu, nos dias do recenseamento, e arrastou o povo consigo, mas também ele pereceu e todos quantos o seguiam foram dispersados. 38 Agora, pois, eu vos aconselho: não vos metais com estes homens. Deixai-os! Se o seu projeto ou a sua obra provém de homens, por si mesma se destruirá; 39 mas se provier de Deus, não podereis desfazê-la. Vós vos arriscaríeis a entrar em luta contra o próprio Deus. Aceitaram o seu conselho. 40 Chamaram os apóstolos e mandaram açoitá-los. Ordenaram-lhes então que não pregassem mais em nome de Jesus, e os soltaram. 41 Eles saíram da sala do Grande Conselho, cheios de alegria, por terem sido achados dignos de sofrer afrontas pelo nome de Jesus. 42 E todos os dias não cessavam de ensinar e de pregar o Evangelho de Jesus Cristo no templo e pelas casas.
1 Naqueles dias, como crescesse o número dos discípulos, houve queixas dos gregos contra os hebreus, porque as suas viúvas teriam sido negligenciadas na distribuição diária. 2 Por isso, os Doze convocaram uma reunião dos discípulos e disseram: Não é razoável que abandonemos a palavra de Deus, para administrar. 3 Portanto, irmãos, escolhei dentre vós sete homens de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria, aos quais encarregaremos este ofício. 4 Nós atenderemos sem cessar à oração e ao ministério da palavra. 5 Este parecer agradou a toda a reunião. Escolheram Estêvão, homem cheio de fé e do Espírito Santo; Filipe, Prócoro, Nicanor, Timão, Pármenas e Nicolau, prosélito de Antioquia. 6 Apresentaram-nos aos apóstolos, e estes, orando, impuseram-lhes as mãos. 7 Divulgou-se sempre mais a palavra de Deus. Multiplicava-se consideravelmente o número dos discípulos em Jerusalém. Também grande número de sacerdotes aderia à fé. 8 Estêvão, cheio de graça e fortaleza, fazia grandes milagres e prodígios entre o povo. 9 Mas alguns da sinagoga, chamada dos Libertos, dos cirenenses, dos alexandrinos e dos que eram da Cilícia e da Ásia, levantaram-se para disputar com ele. 10 Não podiam, porém, resistir à sabedoria e ao Espírito que o inspirava. 11 Então subornaram alguns indivíduos para que dissessem que o tinham ouvido proferir palavras de blasfêmia contra Moisés e contra Deus. 12 Amotinaram assim o povo, os anciãos e os escribas e, investindo contra ele, agarraram-no e o levaram ao Grande Conselho. 13 Apresentaram falsas testemunhas que diziam: Esse homem não cessa de proferir palavras contra o lugar santo e contra a lei. 14 Nós o ouvimos dizer que Jesus de Nazaré há de destruir este lugar e há de mudar as tradições que Moisés nos legou. 15 Fixando nele os olhos, todos os membros do Grande Conselho viram o seu rosto semelhante ao de um anjo.
1 Perguntou-lhe então o sumo sacerdote: É realmente assim? 2 Respondeu ele: Irmãos e pais, escutai. O Deus da glória apareceu a nosso pai Abraão, quando estava na Mesopotâmia, antes de ir morar em Harã. 3 E disse-lhe: Sai de teu país e de tua parentela, e vai para a terra que eu te mostrar (Gn 12,1). 4 Ele saiu da terra dos caldeus, e foi habitar em Harã. Dali, depois que lhe faleceu o pai, Deus o fez passar para esta terra, em que vós agora habitais. 5 Não lhe deu nela propriedade alguma, nem sequer um palmo de terra, mas prometeu dar-lha em posse, e depois dele à sua posteridade, quando ainda não tinha filho algum. 6 Eis como falou Deus: Tua descendência habitará em terra estranha e será reduzida à escravidão e maltratada pelo espaço de quatrocentos anos. 7 Mas eu julgarei a nação que os dominar - diz o Senhor -, e eles sairão e me prestarão culto neste lugar (Gn 15,13s.; Ex 3,12). 8 E deu-lhe a aliança da circuncisão. Assim, Abraão teve um filho, Isaac, e, passados oito dias, o circuncidou; e Isaac, a Jacó; e Jacó, os doze patriarcas. 9 Os patriarcas, invejosos de José, venderam-no para o Egito. Mas Deus estava com ele. 10 Livrou-o de todas as suas tribulações e deu-lhe graça e sabedoria diante do faraó, rei do Egito, que o fez governador do Egito e chefe de sua casa. 11 Sobreveio depois uma fome a todo o Egito e Canaã. Grande era a tribulação, e os nossos pais não achavam o que comer. 12 Mas quando Jacó soube que havia trigo no Egito, enviou pela primeira vez os nossos pais para lá. 13 Na segunda, foi José reconhecido por seus irmãos, e foi descoberta ao faraó a sua origem. 14 Enviando mensageiros, José mandou vir seu pai Jacó com toda a sua família, que constava de setenta e cinco pessoas. 15 Jacó desceu ao Egito e morreu ali, como também nossos pais. 16 Seus corpos foram trasladados para Siquém, e foram postos no sepulcro que Abraão tinha comprado, a peso de dinheiro, dos filhos de Hemor, de Siquém. 17 Aproximava-se o tempo em que devia realizar-se a promessa que Deus havia jurado a Abraão. O povo cresceu e se multiplicou no Egito 18 até que se levantou outro rei no Egito, o qual nada sabia de José. 19 Este rei, usando de astúcia contra a nossa raça, maltratou nossos pais e obrigou-os a enjeitar seus filhos para privá-los da vida. 20 Por este mesmo tempo, nasceu Moisés. Era belo aos olhos de Deus e por três meses foi criado na casa paterna. 21 Depois, quando foi exposto, a filha do faraó o recolheu e o criou como seu próprio filho. 22 Moisés foi instruído em todas as ciências dos egípcios e tornou-se forte em palavras e obras. 23 Quando completou 40 anos, veio-lhe à mente visitar seus irmãos, os filhos de Israel. 24 Viu que um deles era maltratado; tomou-lhe a defesa e vingou o que padecia a injúria, matando o egípcio. 25 Ele esperava que os seus irmãos compreendessem que Deus se servia de sua mão para livrá-los. Mas não o entenderam. 26 No dia seguinte, dois dentre eles brigavam, e ele procurou reconciliá-los: Amigos, disse ele, sois irmãos, por que vos maltratais um ao outro? 27 Mas o que maltratava seu compatriota o repeliu: Quem te constituiu chefe ou juiz sobre nós? 28 Porventura queres tu matar-me, como ontem mataste o egípcio? 29 A estas palavras, Moisés fugiu. E esteve como estrangeiro na terra de Madiã, onde teve dois filhos. 30 Passados quarenta anos, apareceu-lhe no deserto do monte Sinai um anjo, na chama duma sarça ardente. 31 Moisés, admirado de uma tal visão, aproximou-se para a examinar. E a voz do Senhor lhe falou: 32 Eu sou o Deus de teus pais, o Deus de Abraão, de Isaac, de Jacó. Moisés, atemorizado, não ousava levantar os olhos. 33 O Senhor lhe disse: Tira o teu calçado, porque o lugar onde estás é uma terra santa. 34 Considerei a aflição do meu povo no Egito, ouvi os seus gemidos e desci para livrá-los. Vem, pois, agora e eu te enviarei ao Egito. 35 Este Moisés que desprezaram, dizendo: Quem te constituiu chefe ou juiz?, a este Deus enviou como chefe e libertador pela mão do anjo que lhe apareceu na sarça. 36 Ele os fez sair do Egito, operando prodígios e milagres na terra do Egito, no mar Vermelho e no deserto, por espaço de quarenta anos. 37 Foi este Moisés que disse aos filhos de Israel: Deus vos suscitará dentre os vossos irmãos um profeta como eu. 38 Este é o que esteve entre o povo congregado no deserto, e com o anjo que lhe falara no monte Sinai, e com os nossos pais; que recebeu palavras de vida para no-las transmitir. 39 Nossos pais não lhe quiseram obedecer, mas o repeliram. Em seus corações voltaram-se para o Egito, 40 dizendo a Aarão: Faze-nos deuses, que vão diante de nós, porque quanto a este Moisés, que nos tirou da terra do Egito, não sabemos o que foi feito dele. 41 Fizeram, naqueles dias, um bezerro de ouro e ofereceram um sacrifício ao ídolo, e se alegravam diante da obra das suas mãos. 42 Mas Deus afastou-se e os abandonou ao culto dos astros do céu, como está escrito no livro dos profetas: Porventura, casa de Israel, vós me oferecestes vítimas e sacrifícios por quarenta anos no deserto? 43 Aceitastes a tenda de Moloc e a estrela do vosso deus Renfão, figuras que vós fizestes para adorá-las! Assim eu vos deportarei para além da Babilônia (Am 5,25ss.). 44 A Arca da Aliança esteve com os nossos pais no deserto, como Deus ordenou a Moisés que a fizesse conforme o modelo que tinha visto. 45 Recebendo-a nossos pais, levaram-na sob a direção de Josué às terras dos pagãos, que Deus expulsou da presença de nossos pais. E ali ficou até o tempo de Davi. 46 Este encontrou graça diante de Deus e pediu que pudesse achar uma morada para o Deus de Jacó. 47 Salomão foi quem lhe edificou a casa. 48 O Altíssimo, porém, não habita em casas construídas por mãos humanas. Como diz o profeta: 49 O céu é o meu trono, e a terra o escabelo dos meus pés. Que casa me edificareis vós?, diz o Senhor. Qual é o lugar do meu repouso? 50 Acaso não foi minha mão que fez tudo isto (Is 66,1s.)? 51 Homens de dura cerviz, e de corações e ouvidos incircuncisos! Vós sempre resistis ao Espírito Santo. Como procederam os vossos pais, assim procedeis vós também! 52 A qual dos profetas não perseguiram os vossos pais? Mataram os que prediziam a vinda do Justo, do qual vós agora tendes sido traidores e homicidas. 53 Vós que recebestes a lei pelo ministério dos anjos e não a guardastes... 54 Ao ouvir tais palavras, esbravejaram de raiva e rangiam os dentes contra ele. 55 Mas, cheio do Espírito Santo, Estêvão fitou o céu e viu a glória de Deus e Jesus de pé à direita de Deus: 56 Eis que vejo, disse ele, os céus abertos e o Filho do Homem, de pé, à direita de Deus. 57 Levantaram então um grande clamor, taparam os ouvidos e todos juntos se atiraram furiosos contra ele. 58 Lançaram-no fora da cidade e começaram a apedrejá-lo. As testemunhas depuseram os seus mantos aos pés de um moço chamado Saulo. 59 E apedrejavam Estêvão, que orava e dizia: Senhor Jesus, recebe o meu espírito. 60 Posto de joelhos, exclamou em alta voz: Senhor, não lhes leves em conta este pecado... A estas palavras, expirou.
1 E Saulo havia aprovado a morte de Estêvão. Naquele dia, rompeu uma grande perseguição contra a comunidade de Jerusalém. Todos se dispersaram pelas regiões da Judéia e de Samaria, com exceção dos apóstolos. 2 Entretanto, alguns homens piedosos trataram de enterrar Estêvão e fizeram grande pranto a seu respeito. 3 Saulo, porém, devastava a Igreja. Entrando pelas casas, arrancava delas homens e mulheres e os entregava à prisão. 4 Os que se haviam dispersado iam por toda parte, anunciando a palavra (de Deus). 5 Assim Filipe desceu à cidade de Samaria, pregando-lhes Cristo. 6 A multidão estava atenta ao que Filipe lhe dizia, escutando-o unanimemente e presenciando os prodígios que fazia. 7 Pois os espíritos imundos de muitos possessos saíam, levantando grandes brados. Igualmente foram curados muitos paralíticos e coxos. 8 Por esse motivo, naquela cidade reinava grande alegria. 9 Ora, havia ali um homem, por nome Simão, que exercia magia na cidade, maravilhando o povo de Samaria, e fazia-se passar por um grande personagem. 10 Todos lhe davam ouvidos, do menor até o maior, comentando: Este homem é o poder de Deus, chamado o Grande. 11 Eles o atendiam, porque por muito tempo os havia deslumbrado com as suas artes mágicas. 12 Mas, depois que acreditaram em Filipe, que lhes anunciava o Reino de Deus e o nome de Jesus Cristo, homens e mulheres pediam o batismo. 13 Simão também acreditou e foi batizado. Ele não abandonava Filipe, admirando, estupefato, os grandes milagres e prodígios que eram feitos. 14 Os apóstolos que se achavam em Jerusalém, tendo ouvido que a Samaria recebera a palavra de Deus, enviaram-lhe Pedro e João. 15 Estes, assim que chegaram, fizeram oração pelos novos fiéis, a fim de receberem o Espírito Santo, 16 visto que não havia descido ainda sobre nenhum deles, mas tinham sido somente batizados em nome do Senhor Jesus. 17 Então os dois apóstolos lhes impuseram as mãos e receberam o Espírito Santo. 18 Quando Simão viu que se dava o Espírito Santo por meio da imposição das mãos dos apóstolos, ofereceu-lhes dinheiro, dizendo: 19 Dai-me também este poder, para que todo aquele a quem impuser as mãos receba o Espírito Santo. 20 Pedro respondeu: Maldito seja o teu dinheiro e tu também, se julgas poder comprar o dom de Deus com dinheiro! 21 Não terás direito nem parte alguma neste ministério, já que o teu coração não é puro diante de Deus. 22 Arrepende-te desta tua maldade e roga a Deus, para que, sendo possível, te seja perdoado este pensamento do teu coração. 23 Pois estou a ver-te no fel da amargura e nos laços da iniqüidade. 24 Retorquiu Simão: Rogai vós por mim ao Senhor, para que nada do que haveis dito venha a cair sobre mim. 25 Os apóstolos, depois de terem dado testemunho e anunciado a palavra do Senhor, voltaram para Jerusalém e pregavam a boa nova em muitos lugares dos samaritanos. 26 Um anjo do Senhor dirigiu-se a Filipe e disse: Levanta-te e vai para o sul, em direção do caminho que desce de Jerusalém a Gaza, a Deserta. 27 Filipe levantou-se e partiu. Ora, um etíope, eunuco, ministro da rainha Candace, da Etiópia, e superintendente de todos os seus tesouros, tinha ido a Jerusalém para adorar. 28 Voltava sentado em seu carro, lendo o profeta Isaías. 29 O Espírito disse a Filipe: Aproxima-te para bem perto deste carro. 30 Filipe aproximou-se e ouviu que o eunuco lia o profeta Isaías, e perguntou-lhe: Porventura entendes o que estás lendo? 31 Respondeu-lhe: Como é que posso, se não há alguém que mo explique? E rogou a Filipe que subisse e se sentasse junto dele. 32 A passagem da Escritura, que ia lendo, era esta: Como ovelha, foi levado ao matadouro; e como cordeiro mudo diante do que o tosquia, ele não abriu a sua boca. 33 Na sua humilhação foi consumado o seu julgamento. Quem poderá contar a sua descendência? Pois a sua vida foi tirada da terra (Is 53,7s.). 34 O eunuco disse a Filipe: Rogo-te que me digas de quem disse isto o profeta: de si mesmo ou de outrem? 35 Começou então Filipe a falar, e, principiando por essa passagem da Escritura, anunciou-lhe Jesus. 36 Continuando o caminho, encontraram água. Disse então o eunuco: Eis aí a água. Que impede que eu seja batizado? 37 [Filipe respondeu: Se crês de todo o coração, podes sê-lo. Eu creio, disse ele, que Jesus Cristo é o Filho de Deus.] 38 E mandou parar o carro. Ambos desceram à água e Filipe batizou o eunuco. 39 Mal saíram da água, o Espírito do Senhor arrebatou Filipe dos olhares do eunuco, que, cheio de alegria, continuou o seu caminho. 40 Filipe, entretanto, foi transportado a Azoto. Passando além, pregava o Evangelho em todas as cidades, até que chegou a Cesaréia.
1 Enquanto isso, Saulo só respirava ameaças e morte contra os discípulos do Senhor. Apresentou-se ao príncipe dos sacerdotes, 2 e pediu-lhe cartas para as sinagogas de Damasco, com o fim de levar presos a Jerusalém todos os homens e mulheres que achasse seguindo essa doutrina. 3 Durante a viagem, estando já perto de Damasco, subitamente o cercou uma luz resplandecente vinda do céu. 4 Caindo por terra, ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues? 5 Saulo disse: Quem és, Senhor? Respondeu ele: Eu sou Jesus, a quem tu persegues. [Duro te é recalcitrar contra o aguilhão. 6 Então, trêmulo e atônito, disse ele: Senhor, que queres que eu faça? Respondeu-lhe o Senhor:] Levanta-te, entra na cidade. Aí te será dito o que deves fazer. 7 Os homens que o acompanhavam enchiam-se de espanto, pois ouviam perfeitamente a voz, mas não viam ninguém. 8 Saulo levantou-se do chão. Abrindo, porém, os olhos, não via nada. Tomaram-no pela mão e o introduziram em Damasco, 9 onde esteve três dias sem ver, sem comer nem beber. 10 Havia em Damasco um discípulo chamado Ananias. O Senhor, numa visão, lhe disse: Ananias! Eis-me aqui, Senhor, respondeu ele. 11 O Senhor lhe ordenou: Levanta-te e vai à rua Direita, e pergunta em casa de Judas por um homem de Tarso, chamado Saulo; ele está orando. 12 (Este via numa visão um homem, chamado Ananias, entrar e impor-lhe as mãos para recobrar a vista.) 13 Ananias respondeu: Senhor, muitos já me falaram deste homem, quantos males fez aos teus fiéis em Jerusalém. 14 E aqui ele tem poder dos príncipes dos sacerdotes para prender a todos aqueles que invocam o teu nome. 15 Mas o Senhor lhe disse: Vai, porque este homem é para mim um instrumento escolhido, que levará o meu nome diante das nações, dos reis e dos filhos de Israel. 16 Eu lhe mostrarei tudo o que terá de padecer pelo meu nome. 17 Ananias foi. Entrou na casa e, impondo-lhe as mãos, disse: Saulo, meu irmão, o Senhor, esse Jesus que te apareceu no caminho, enviou-me para que recobres a vista e fiques cheio do Espírito Santo. 18 No mesmo instante caíram dos olhos de Saulo umas como escamas, e recuperou a vista. Levantou-se e foi batizado. 19 Depois tomou alimento e sentiu-se fortalecido. Demorou-se por alguns dias com os discípulos que se achavam em Damasco. 20 Imediatamente começou a proclamar pelas sinagogas que Jesus é o Filho de Deus. 21 Todos os seus ouvintes pasmavam e diziam: Este não é aquele que perseguia em Jerusalém os que invocam o nome de Jesus? Não veio cá só para levá-los presos aos sumos sacerdotes? 22 Saulo, porém, sentia crescer o seu poder e confundia os judeus de Damasco, demonstrando que Jesus é o Cristo. 23 Decorridos alguns dias, os judeus deliberaram, em conselho, matá-lo. 24 Estas intenções chegaram ao conhecimento de Saulo. Guardavam eles as portas de dia e de noite, para matá-lo. 25 Mas os discípulos, tomando-o de noite, fizeram-no descer pela muralha dentro de um cesto. 26 Chegando a Jerusalém, tentava ajuntar-se aos discípulos, mas todos o temiam, não querendo crer que se tivesse tornado discípulo. 27 Então Barnabé, levando-o consigo, apresentou-o aos apóstolos e contou-lhes como Saulo vira o Senhor no caminho, e que lhe havia falado, e como em Damasco pregara, com desassombro, o nome de Jesus. 28 Daí por diante permaneceu com eles, saindo e entrando em Jerusalém, e pregando, destemidamente, o nome do Senhor. 29 Falava também e discutia com os helenistas. Mas estes procuravam matá-lo. 30 Os irmãos, informados disso, acompanharam-no até Cesaréia e dali o fizeram partir para Tarso. 31 A Igreja gozava então de paz por toda a Judéia, Galiléia e Samaria. Estabelecia-se ela caminhando no temor do Senhor, e a assistência do Espírito Santo a fazia crescer em número. 32 Pedro, que caminhava por toda parte, de cidade em cidade, desceu também aos fiéis que habitavam em Lida. 33 Ali achou um homem chamado Enéias, que havia oito anos jazia paralítico num leito. 34 Disse-lhe Pedro: Enéias, Jesus Cristo te cura: levanta-te e faze tua cama. E levantou-se imediatamente. 35 Viram-no todos os que habitavam em Lida e em Sarona, e converteram-se ao Senhor. 36 Em Jope havia uma discípula chamada Tabita - em grego, Dorcas. Esta era rica em boas obras e esmolas que dava. 37 Aconteceu que adoecera naqueles dias e veio a falecer. Depois de a terem lavado, levaram-na para o quarto de cima. 38 Ora, como Lida fica perto de Jope, os discípulos, ouvindo dizer que Pedro aí se encontrava, enviaram-lhe dois homens, rogando-lhe: Não te demores em vir ter conosco. 39 Pedro levantou-se imediatamente e foi com eles. Logo que chegou, conduziram-no ao quarto de cima. Cercavam-no todas as viúvas, chorando e mostrando-lhe as túnicas e os vestidos que Dorcas lhes fazia quando viva. 40 Pedro então, tendo feito todos sair, pôs-se de joelhos e orou. Voltando-se para o corpo, disse: Tabita, levanta-te! Ela abriu os olhos e, vendo Pedro, sentou-se. 41 Ele a fez levantar-se, estendendo-lhe a mão. Chamando os irmãos e as viúvas, entregou-lha viva. 42 Este fato espalhou-se por toda Jope e muitos creram no Senhor. 43 Pedro permaneceu ainda muitos dias em Jope, em casa dum curtidor, chamado Simão.
1 Havia em Cesaréia um homem, por nome Cornélio, centurião da coorte que se chamava Itálica. 2 Era religioso; ele e todos os de sua casa eram tementes a Deus. Dava muitas esmolas ao povo e orava constantemente. 3 Este homem viu claramente numa visão, pela hora nona do dia, aproximar-se dele um anjo de Deus e o chamar: Cornélio! 4 Cornélio fixou nele os olhos e, possuído de temor, perguntou: Que há, Senhor? O anjo replicou: As tuas orações e as tuas esmolas subiram à presença de Deus como uma oferta de lembrança. 5 Agora envia homens a Jope e faze vir aqui um certo Simão, que tem por sobrenome Pedro. 6 Ele se acha hospedado em casa de Simão, um curtidor, cuja casa fica junto ao mar. 7 Quando se retirou o anjo que lhe falara, chamou dois dos seus criados e um soldado temente ao Senhor, daqueles que estavam às suas ordens. 8 Contou-lhes tudo e enviou-os a Jope. 9 No dia seguinte, enquanto estavam em viagem e se aproximavam da cidade - pelo meio-dia -, Pedro subiu ao terraço da casa para fazer oração. 10 Então, como sentisse fome, quis comer. Mas, enquanto lho preparavam, caiu em êxtase. 11 Viu o céu aberto e descer uma coisa parecida com uma grande toalha que baixava do céu à terra, segura pelas quatro pontas. 12 Nela havia de todos os quadrúpedes, dos répteis da terra e das aves do céu. 13 Uma voz lhe falou: Levanta-te, Pedro! Mata e come. 14 Disse Pedro: De modo algum, Senhor, porque nunca comi coisa alguma profana e impura. 15 Esta voz lhe falou pela segunda vez: O que Deus purificou não chames tu de impuro. 16 Isto se repetiu três vezes e logo a toalha foi recolhida ao céu. 17 Desconcertado, Pedro refletia consigo mesmo sobre o que significava a visão que tivera, quando os homens, enviados por Cornélio, se apresentaram à porta, perguntando pela casa de Simão. 18 Eles chamaram e indagaram se ali estava hospedado Simão, com o sobrenome Pedro. 19 Enquanto Pedro refletia na visão, disse o Espírito: Eis aí três homens que te procuram. 20 Levanta-te! Desce e vai com eles sem hesitar, porque sou eu quem os enviou. 21 Pedro desceu ao encontro dos homens e disse-lhes: Aqui me tendes, sou eu a quem buscais. Qual é o motivo por que viestes aqui? 22 Responderam: O centurião Cornélio, homem justo e temente a Deus, o qual goza de excelente reputação entre todos os judeus, recebeu dum santo anjo o aviso de te mandar chamar à sua casa e de ouvir as tuas palavras. 23 Então Pedro os mandou entrar e hospedou-os. No dia seguinte, levantou-se e partiu com eles, e alguns dos irmãos de Jope o acompanharam. 24 No outro dia chegaram a Cesaréia. Cornélio os estava esperando, tendo convidado os seus parentes e amigos mais íntimos. 25 Quando Pedro estava para entrar, Cornélio saiu a recebê-lo e prostrou-se aos seus pés para adorá-lo. 26 Pedro, porém, o ergueu, dizendo: Levanta-te! Também eu sou um homem! 27 E, falando com ele, entrou e achou ali muitas pessoas que se tinham reunido e disse: 28 Vós sabeis que é proibido a um judeu aproximar-se dum estrangeiro ou ir à sua casa. Todavia, Deus me mostrou que nenhum homem deve ser considerado profano ou impuro. 29 Por isso vim sem hesitar, logo que fui chamado. Pergunto, pois, por que motivo me chamastes. 30 Disse Cornélio: Faz hoje quatro dias que estava eu a orar em minha casa, à hora nona, quando se pôs diante de mim um homem com vestes resplandecentes, que disse: 31 Cornélio, a tua oração foi atendida e Deus se lembrou de tuas esmolas. 32 Envia alguém a Jope e manda vir Simão, que tem por sobrenome Pedro. Está hospedado perto do mar em casa do curtidor Simão. 33 Por isso mandei chamar-te logo e felicito-te por teres vindo. Agora, pois, eis-nos todos reunidos na presença de Deus para ouvir tudo o que Deus te ordenou de nos dizer. 34 Então Pedro tomou a palavra e disse: Em verdade, reconheço que Deus não faz distinção de pessoas, 35 mas em toda nação lhe é agradável aquele que o temer e fizer o que é justo. 36 Deus enviou a sua palavra aos filhos de Israel, anunciando-lhes a boa nova da paz, por meio de Jesus Cristo. Este é o Senhor de todos. 37 Vós sabeis como tudo isso aconteceu na Judéia, depois de ter começado na Galiléia, após o batismo que João pregou. 38 Vós sabeis como Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com o poder, como ele andou fazendo o bem e curando todos os oprimidos do demônio, porque Deus estava com ele. 39 E nós somos testemunhas de tudo o que fez na terra dos judeus e em Jerusalém. Eles o mataram, suspendendo-o num madeiro. 40 Mas Deus o ressuscitou ao terceiro dia e permitiu que aparecesse, 41 não a todo o povo, mas às testemunhas que Deus havia predestinado, a nós que comemos e bebemos com ele, depois que ressuscitou. 42 Ele nos mandou pregar ao povo e testemunhar que é ele quem foi constituído por Deus juiz dos vivos e dos mortos. 43 Dele todos os profetas dão testemunho, anunciando que todos os que nele crêem recebem o perdão dos pecados por meio de seu nome. 44 Estando Pedro ainda a falar, o Espírito Santo desceu sobre todos os que ouviam a (santa) palavra. 45 Os fiéis da circuncisão, que tinham vindo com Pedro, profundamente se admiraram, vendo que o dom do Espírito Santo era derramado também sobre os pagãos; 46 pois eles os ouviam falar em outras línguas e glorificar a Deus. 47 Então Pedro tomou a palavra: Porventura pode-se negar a água do batismo a estes que receberam o Espírito Santo como nós? 48 E mandou que fossem batizados em nome de Jesus Cristo. Rogaram-lhe então que ficasse com eles por alguns dias.
1 Os apóstolos e os irmãos da Judéia ouviram dizer que também os pagãos haviam recebido a palavra de Deus. 2 E, quando Pedro subiu a Jerusalém, os fiéis que eram da circuncisão repreenderam-no: 3 Por que entraste em casa de incircuncisos e comeste com eles? 4 Mas Pedro fez-lhes uma exposição de tudo o que acontecera, dizendo: 5 Eu estava orando na cidade de Jope e, arrebatado em espírito, tive uma visão: uma coisa, à maneira duma grande toalha, presa pelas quatro pontas, descia do céu até perto de mim. 6 Olhei-a atentamente e distingui claramente quadrúpedes terrestres, feras, répteis e aves do céu. 7 Ouvi também uma voz que me dizia: Levanta-te, Pedro! Mata e come. 8 Eu, porém, disse: De nenhum modo, Senhor, pois nunca entrou em minha boca coisa profana ou impura. 9 Outra vez falou a voz do céu: O que Deus purificou não chames tu de impuro. 10 Isto aconteceu três vezes e tudo tornou a ser levado ao céu. 11 Nisso chegaram três homens à casa onde eu estava, enviados a mim de Cesaréia. 12 O Espírito me disse que fosse com eles sem hesitar. Foram comigo também os seis irmãos aqui presentes e entramos na casa de Cornélio. 13 Este nos referiu então como em casa tinha visto um anjo diante de si, que lhe dissera: Envia alguém a Jope e chama Simão, que tem por sobrenome Pedro. 14 Ele te dirá as palavras pelas quais serás salvo tu e toda a tua casa. 15 Apenas comecei a falar, quando desceu o Espírito Santo sobre eles, como no princípio descera também sobre nós. 16 Lembrei-me então das palavras do Senhor, quando disse: João batizou em água, mas vós sereis batizados no Espírito Santo. 17 Pois, se Deus lhes deu a mesma graça que a nós, que cremos no Senhor Jesus Cristo, com que direito me oporia eu a Deus? 18 Depois de terem ouvido essas palavras, eles se calaram e deram glória a Deus, dizendo: Portanto, também aos pagãos concedeu Deus o arrependimento que conduz à vida! 19 Entretanto, aqueles que foram dispersados pela perseguição que houve no tempo de Estêvão chegaram até a Fenícia, Chipre e Antioquia, pregando a palavra só aos judeus. 20 Alguns deles, porém, que eram de Chipre e de Cirene, entrando em Antioquia, dirigiram-se também aos gregos, anunciando-lhes o Evangelho do Senhor Jesus. 21 A mão do Senhor estava com eles e grande foi o número dos que receberam a fé e se converteram ao Senhor. 22 A notícia dessas coisas chegou aos ouvidos da Igreja de Jerusalém. Enviaram então Barnabé até Antioquia. 23 Ao chegar lá, alegrou-se, vendo a graça de Deus, e a todos exortava a perseverar no Senhor com firmeza de coração, 24 pois era um homem de bem e cheio do Espírito Santo e de fé. Assim uma grande multidão uniu-se ao Senhor. 25 Em seguida, partiu Barnabé para Tarso, à procura de Saulo. Achou-o e levou-o para Antioquia. 26 Durante um ano inteiro eles tomaram parte nas reuniões da comunidade e instruíram grande multidão, de maneira que em Antioquia é que os discípulos, pela primeira vez, foram chamados pelo nome de cristãos. 27 Por aqueles dias desceram alguns profetas de Jerusalém a Antioquia. 28 Um deles, chamado Ágabo, levantou-se e deu a entender pelo Espírito que haveria uma grande fome em toda a terra. Esta, com efeito, veio no reinado de Cláudio. 29 Os discípulos resolveram, cada um conforme as suas posses, enviar socorro aos irmãos da Judéia. 30 Assim o fizeram e o enviaram aos anciãos por intermédio de Barnabé e Saulo.
1 Por aquele mesmo tempo, o rei Herodes mandou prender alguns membros da Igreja para os maltratar. 2 Assim foi que matou à espada Tiago, irmão de João. 3 Vendo que isto agradava aos judeus, mandou prender Pedro. Eram então os dias dos pães sem fermento. 4 Mandou prendê-lo e lançou-o no cárcere, entregando-o à guarda de quatro grupos, de quatro soldados cada um, com a intenção de apresentá-lo ao povo depois da Páscoa. 5 Pedro estava assim encerrado na prisão, mas a Igreja orava sem cessar por ele a Deus. 6 Ora, quando Herodes estava para o apresentar, naquela mesma noite dormia Pedro entre dois soldados, ligado com duas cadeias. Os guardas, à porta, vigiavam o cárcere. 7 De repente, apresentou-se um anjo do Senhor, e uma luz brilhou no recinto. Tocando no lado de Pedro, o anjo despertou-o: Levanta-te depressa, disse ele. Caíram-lhe as cadeias das mãos. 8 O anjo ordenou: Cinge-te e calça as tuas sandálias. Ele assim o fez. O anjo acrescentou: Cobre-te com a tua capa e segue-me. 9 Pedro saiu e seguiu-o, sem saber se era real o que se fazia por meio do anjo. Julgava estar sonhando. 10 Passaram o primeiro e o segundo postos da guarda. Chegaram ao portão de ferro, que dá para a cidade, o qual se lhes abriu por si mesmo. Saíram e tomaram juntos uma rua. Em seguida, de súbito, o anjo desapareceu. 11 Então Pedro tornou a si e disse: Agora vejo que o Senhor mandou verdadeiramente o seu anjo e me livrou da mão de Herodes e de tudo o que esperava o povo dos judeus. 12 Refletiu um momento e dirigiu-se para a casa de Maria, mãe de João, que tem por sobrenome Marcos, onde muitos se tinham reunido e faziam oração. 13 Quando bateu à porta de entrada, uma criada, chamada Rode, adiantou-se para escutar. 14 Mal reconheceu a voz de Pedro, de tanta alegria não abriu a porta, mas, correndo para dentro, foi anunciar que era Pedro que estava à porta. 15 Disseram-lhe: Estás louca! Mas ela persistia em afirmar que era verdade. Diziam eles: Então é o seu anjo. 16 Pedro continuava a bater. Afinal abriram a porta, viram-no e ficaram atônitos. 17 Ele, acenando-lhes com a mão que se calassem, contou como o Senhor o havia livrado da prisão, e disse: Comunicai-o a Tiago e aos irmãos. Em seguida, saiu dali e retirou-se para outro lugar. 18 Logo que amanheceu, houve um sobressalto pouco comum entre os soldados sobre o que acontecera a Pedro. 19 Herodes, procurando-o e não o achando, instaurou um processo contra os guardas e mandou supliciá-los. Em seguida, desceu da Judéia para Cesaréia, onde permaneceu. 20 Estava Herodes em conflito com os habitantes de Tiro e de Sidônia. Estes, porém, de comum acordo, se apresentaram a ele, e, com o favor de Blasto, que era camareiro do rei, pediram a paz. (Porque a sua região era abastecida por ele.) 21 No dia marcado, Herodes, vestido em traje real, sentou-se no tribunal e lhes dirigiu uma alocução. 22 O povo aplaudia: É a voz de um deus, e não de um homem! 23 No mesmo instante, o anjo do Senhor o feriu, por ele não haver dado honra a Deus. E, roído de vermes, expirou. 24 Entretanto, a palavra de Deus crescia e se espalhava sempre mais. 25 Tendo Barnabé e Saulo concluído a sua missão, voltaram de Jerusalém (a Antioquia), levando consigo João, que tem por sobrenome Marcos.
1 Havia então na Igreja de Antioquia profetas e doutores, entre eles Barnabé, Simão, apelidado o Negro, Lúcio de Cirene, Manaém, companheiro de infância do tetrarca Herodes, e Saulo. 2 Enquanto celebravam o culto do Senhor, depois de terem jejuado, disse-lhes o Espírito Santo: Separai-me Barnabé e Saulo para a obra a que os tenho destinado. 3 Então, jejuando e orando, impuseram-lhes as mãos e os despediram. 4 Enviados assim pelo Espírito Santo, foram a Selêucia e dali navegaram para a ilha de Chipre. 5 Chegados a Salamina, pregavam a palavra de Deus nas sinagogas dos judeus. Tinham com eles João para auxiliá-los. 6 Percorreram toda a ilha até Pafos e acharam um judeu chamado Barjesus, mago e falso profeta, 7 que vivia na companhia do procônsul Sérgio Paulo, homem sensato. Este chamou Barnabé e Saulo, e exprimiu-lhes o desejo de ouvir a palavra de Deus. 8 Mas Élimas, o Mago - pois assim é interpretado o seu nome -, se lhes opunha, procurando desviar da fé o procônsul. 9 Então Saulo, chamado também Paulo, cheio do Espírito Santo, cravou nele os olhos e disse-lhe: 10 Filho do demônio, cheio de todo engano e de toda astúcia, inimigo de toda justiça, não cessas de perverter os caminhos retos do Senhor! 11 Eis que agora está sobre ti a mão do Senhor e ficarás cego. Não verás o sol até nova ordem! Caíram logo sobre ele a escuridão e as trevas, e, andando à roda, buscava quem lhe desse a mão. 12 À vista deste prodígio, o procônsul abraçou a fé, admirando vivamente a doutrina do Senhor. 13 Paulo e os seus companheiros navegaram de Pafos e chegaram a Perge, na Panfília, de onde João, apartando-se deles, voltou para Jerusalém. 14 Mas eles, deixando Perge, foram para Antioquia da Pisídia. Ali entraram em dia de sábado na sinagoga, e sentaram-se. 15 Depois da leitura da lei e dos profetas, mandaram-lhes dizer os chefes da sinagoga: Irmãos, se tendes alguma palavra de exortação ao povo, falai-a. 16 Paulo levantou-se, fez um sinal com a mão e falou: Homens de Israel e vós que temeis a Deus, ouvi. 17 O Deus do povo de Israel escolheu nossos pais e exaltou este povo no tempo em que habitava na terra do Egito, de onde os tirou com o poder de seu braço. 18 Por espaço de quarenta anos alimentou-os no deserto. 19 Destruiu sete nações na terra de Canaã e distribuiu-lhes por sorte aquela terra durante quase quatrocentos e cinqüenta anos. 20 Em seguida, lhes deu juízes até o profeta Samuel. 21 Pediram então um rei, e Deus lhes deu, por quarenta anos, Saul, filho de Cis, da tribo de Benjamim. 22 Depois, Deus o rejeitou e mandou-lhes Davi como rei, de quem deu este testemunho: Achei Davi, filho de Jessé, homem segundo o meu coração, que fará todas as minhas vontades. 23 De sua descendência, conforme a promessa, Deus fez sair para Israel o Salvador Jesus. 24 João tinha pregado, desde antes da sua vinda, o batismo do arrependimento a todo o povo de Israel. 25 Terminando a sua carreira, dizia: Eu não sou aquele que vós pensais, mas após mim virá aquele de quem não sou digno de desatar o calçado. 26 Irmãos, filhos de Abraão, e os que entre vós temem a Deus: a nós é que foi dirigida a mensagem de salvação. 27 Com efeito, os habitantes de Jerusalém e os seus magistrados não conheceram Jesus, e, sentenciando-o, cumpriram os oráculos dos profetas, que cada sábado são lidos. 28 Embora não achassem nele culpa alguma de morte, pediram a Pilatos que lhe tirasse a vida. 29 Depois de realizarem todas as coisas que dele estavam escritas, tirando-o do madeiro, puseram-no num sepulcro. 30 Mas Deus o ressuscitou dentre os mortos. 31 Durante muitos dias apareceu àqueles que com ele subiram da Galiléia a Jerusalém, os quais até agora são testemunhas dele junto ao povo. 32 Nós vos anunciamos: a promessa feita a nossos pais, 33 Deus a tem cumprido diante de nós, seus filhos, suscitando Jesus, como também está escrito no Salmo segundo: Tu és meu Filho, eu hoje te gerei (Sl 2,7). 34 Que Deus o ressuscitou dentre os mortos, para nunca mais tornar à corrupção, ele o declarou desta maneira: Eu vos darei as coisas sagradas prometidas a Davi (Is 55,3). 35 E diz também noutra passagem: Não permitirás que teu Santo experimente a corrupção (Sl 15,10). 36 Ora, Davi, depois de ter servido em vida aos desígnios de Deus, morreu. Foi reunido a seus pais e experimentou a corrupção. 37 Mas aquele a quem Deus ressuscitou não experimentou a corrupção. 38 Sabei, pois, irmãos, que por ele se vos anuncia a remissão dos pecados. 39 Todo aquele que crê é justificado por ele de tudo aquilo que não pôde ser pela Lei de Moisés. 40 Cuidai, pois, que não venha sobre vós o que foi dito pelos profetas: 41 Vede, ó desprezadores, pasmai e morrei de espanto. Pois eu vou realizar uma obra em vossos dias, obra a que não creríeis, se alguém vo-la contasse (Hab 1,5). 42 Ao saírem, rogavam que lhes repetissem essas palavras no sábado seguinte. 43 Depois que a assembléia terminou, muitos judeus e prosélitos devotos seguiram Paulo e Barnabé, os quais com muitas palavras os exortavam a perseverar na graça de Deus. 44 No sábado seguinte, afluiu quase toda a cidade para ouvir a palavra de Deus. 45 Os judeus, vendo a multidão, encheram-se de inveja e puseram-se a protestar com injúrias contra o que Paulo falava. 46 Então Paulo e Barnabé disseram-lhes resolutamente: Era a vós que em primeiro lugar se devia anunciar a palavra de Deus. Mas, porque a rejeitais e vos julgais indignos da vida eterna, eis que nos voltamos para os pagãos. 47 Porque o Senhor assim no-lo mandou: Eu te estabeleci para seres luz das nações, e levares a salvação até os confins da terra (Is 49,6). 48 Estas palavras encheram de alegria os pagãos que glorificavam a palavra do Senhor. Todos os que estavam predispostos para a vida eterna fizeram ato de fé. 49 Divulgava-se, assim, a palavra do Senhor por toda a região. 50 Mas os judeus instigaram certas mulheres religiosas da aristocracia e os principais da cidade, que excitaram uma perseguição contra Paulo e Barnabé e os expulsaram do seu território. 51 Estes sacudiram contra eles o pó dos seus pés, e foram a Icônio. 52 Os discípulos, por sua vez, estavam cheios de alegria e do Espírito Santo.
1 Em Icônio, Paulo e Barnabé, segundo seu costume, entraram na sinagoga dos judeus e ali pregaram, de tal modo que uma grande multidão de judeus e de gregos se converteu à fé. 2 Mas os judeus, que tinham permanecido incrédulos, excitaram os ânimos dos pagãos contra os irmãos. 3 Não obstante, eles se demoraram ali por muito tempo, falando com desassombro e confiança no Senhor, que dava testemunho à palavra da sua graça pelos milagres e prodígios que ele operava por mãos dos apóstolos. 4 A população da cidade achava-se dividida: uns eram pelos judeus, outros pelos apóstolos. 5 Mas como se tivesse levantado um motim dos gentios e dos judeus, com os seus chefes, para os ultrajar e apedrejar, 6 ao saberem disso, fugiram para as cidades da Licaônia, Listra e Derbe e suas circunvizinhanças. 7 Ali pregaram o Evangelho. 8 Em Listra vivia um homem aleijado das pernas, coxo de nascença, que nunca tinha andado. 9 Sentado, ele ouvia Paulo pregar. Este, fixando nele os olhos e vendo que tinha fé para ser curado, 10 disse em alta voz: Levanta-te direito sobre os teus pés! Ele deu um salto e pôs-se a andar. 11 Vendo a multidão o que Paulo fizera, levantou a voz, gritando em língua licaônica: Deuses em figura de homens baixaram a nós! 12 Chamavam a Barnabé Zeus e a Paulo Hermes, porque era este quem dirigia a palavra. 13 Um sacerdote de Zeus Propóleos trouxe para as portas touros ornados de grinaldas, querendo, de acordo com todo o povo, sacrificar-lhos. 14 Mas os apóstolos Barnabé e Paulo, ao perceberem isso, rasgaram as suas vestes e saltaram no meio da multidão: 15 Homens, clamavam eles, por que fazeis isso? Também nós somos homens, da mesma condição que vós, e pregamos justamente para que vos convertais das coisas vãs ao Deus vivo, que fez o céu, a terra, o mar e tudo quanto neles há. 16 Ele permitiu nos tempos passados que todas as nações seguissem os seus caminhos. 17 Contudo, nunca deixou de dar testemunho de si mesmo, por seus benefícios: dando-vos do céu as chuvas e os tempos férteis, concedendo abundante alimento e enchendo os vossos corações de alegria. 18 Apesar dessas palavras, não foi sem dificuldade que contiveram a multidão de sacrificar a eles. 19 Sobrevieram, porém, alguns judeus de Antioquia e de Icônio que persuadiram a multidão. Apedrejaram Paulo e, dando-o por morto, arrastaram-no para fora da cidade. 20 Os discípulos o rodearam. Ele se levantou e entrou na cidade. No dia seguinte, partiu com Barnabé para Derbe. 21 Depois de ter pregado o Evangelho à cidade de Derbe, onde ganharam muitos discípulos, voltaram para Listra, Icônio e Antioquia (da Pisídia). 22 Confirmavam as almas dos discípulos e exortavam-nos a perseverar na fé, dizendo que é necessário entrarmos no Reino de Deus por meio de muitas tribulações. 23 Em cada igreja instituíram anciãos e, após orações com jejuns, encomendaram-nos ao Senhor, em quem tinham confiado. 24 Atravessaram a Pisídia e chegaram a Panfília. 25 Depois de ter anunciado a palavra do Senhor em Perge, desceram a Atália. 26 Dali navegaram para Antioquia (da Síria), de onde tinham partido, encomendados à graça de Deus para a obra que estavam a completar. 27 Ali chegados, reuniram a igreja e contaram quão grandes coisas Deus fizera com eles, e como abrira a porta da fé aos gentios. 28 Demoraram-se com os discípulos longo tempo.
1 Alguns homens, descendo da Judéia, puseram-se a ensinar aos irmãos o seguinte: Se não vos circuncidais, segundo o rito de Moisés, não podeis ser salvos. 2 Originou-se então grande discussão de Paulo e Barnabé com eles, e resolveu-se que estes dois, com alguns outros irmãos, fossem tratar desta questão com os apóstolos e os anciãos em Jerusalém. 3 Acompanhados (algum tempo) dos membros da comunidade, tomaram o caminho que atravessa a Fenícia e Samaria. Contaram a todos os irmãos a conversão dos gentios, o que causou a todos grande alegria. 4 Chegando a Jerusalém, foram recebidos pela comunidade, pelos apóstolos e anciãos, a quem contaram tudo o que Deus tinha feito com eles. 5 Mas levantaram-se alguns que antes de ter abraçado a fé eram da seita dos fariseus, dizendo que era necessário circuncidar os pagãos e impor-lhes a observância da Lei de Moisés. 6 Reuniram-se os apóstolos e os anciãos para tratar desta questão. 7 Ao fim de uma grande discussão, Pedro levantou-se e lhes disse: Irmãos, vós sabeis que já há muito tempo Deus me escolheu dentre vós, para que da minha boca os pagãos ouvissem a palavra do Evangelho e cressem. 8 Ora, Deus, que conhece os corações, testemunhou a seu respeito, dando-lhes o Espírito Santo, da mesma forma que a nós. 9 Nem fez distinção alguma entre nós e eles, purificando pela fé os seus corações. 10 Por que, pois, provocais agora a Deus, impondo aos discípulos um jugo que nem nossos pais nem nós pudemos suportar? 11 Nós cremos que pela graça do Senhor Jesus seremos salvos, exatamente como eles. 12 Toda a assembléia o ouviu silenciosamente. Em seguida, ouviram Barnabé e Paulo contar quantos milagres e prodígios Deus fizera por meio deles entre os gentios. 13 Depois de terminarem, Tiago tomou a palavra: Irmãos, ouvi-me, disse ele. 14 Simão narrou como Deus começou a olhar para as nações pagãs para tirar delas um povo que trouxesse o seu nome. 15 Ora, com isto concordam as palavras dos profetas, como está escrito: 16 Depois disto voltarei, e reedificarei o tabernáculo de Davi que caiu. E reedificarei as suas ruínas, e o levantarei 17 para que o resto dos homens busque o Senhor, e todas as nações, sobre as quais tem sido invocado o meu nome. 18 Assim fala o Senhor que faz estas coisas, coisas que ele conheceu desde a eternidade (Am 9,11s.). 19 Por isso, julgo que não se devem inquietar os que dentre os gentios se convertem a Deus. 20 Mas que se lhes escreva somente que se abstenham das carnes oferecidas aos ídolos, da impureza, das carnes sufocadas e do sangue. 21 Porque Moisés, desde muitas gerações, tem em cada cidade seus pregadores, pois que ele é lido nas sinagogas todos os sábados. 22 Então pareceu bem aos apóstolos e aos anciãos com toda a comunidade escolher homens dentre eles e enviá-los a Antioquia com Paulo e Barnabé: Judas, que tinha o sobrenome de Barsabás, e Silas, homens notáveis entre os irmãos. 23 Por seu intermédio enviaram a seguinte carta: "Os apóstolos e os anciãos aos irmãos de origem pagã, em Antioquia, na Síria e Cilícia, saúde! 24 Temos ouvido que alguns dentre nós vos têm perturbado com palavras, transtornando os vossos espíritos, sem lhes termos dado semelhante incumbência. 25 Assim nós nos reunimos e decidimos escolher delegados e enviá-los a vós, com os nossos amados Barnabé e Paulo, 26 homens que têm exposto suas vidas pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo. 27 Enviamos, portanto, Judas e Silas que de viva voz vos exporão as mesmas coisas. 28 Com efeito, pareceu bem ao Espírito Santo e a nós não vos impor outro peso além do seguinte indispensável: 29 que vos abstenhais das carnes sacrificadas aos ídolos, do sangue, da carne sufocada e da impureza. Dessas coisas fareis bem de vos guardar conscienciosamente. Adeus! 30 Tendo-se despedido, a delegação dirigiu-se a Antioquia. Ali reuniram a assembléia e entregaram a carta. 31 À sua leitura, todos se alegraram com o estímulo que ela trazia. 32 Judas e Silas, que eram também profetas, dirigiam aos irmãos muitas palavras de exortação e de animação. 33 Demoraram-se ali por algum tempo. Foram depois pelos irmãos despedidos em paz, voltando aos que lhos tinham enviado. 34 [A Silas contudo, pareceu bem ficar ali, e Judas partiu sozinho.] 35 Paulo e Barnabé detiveram-se também em Antioquia, ensinando e pregando com muitos outros a palavra do Senhor. 36 Ao termo de alguns dias, disse Paulo a Barnabé: Tornemos a visitar os irmãos por todas as cidades onde temos pregado a palavra do Senhor, para ver como estão passando. 37 Barnabé queria levar consigo também João, que tinha por sobrenome Marcos. 38 Paulo, porém, achava que não devia ser admitido quem se tinha separado deles em Panfília e não os havia acompanhado no ministério. 39 Houve tal discussão que se separaram um do outro, e Barnabé, levando consigo Marcos, navegou para Chipre. 40 Paulo, porém, tendo escolhido Silas, e depois de ter sido recomendado pelos irmãos à graça do Senhor, partiu. Ele percorreu a Síria, a Cilícia, confirmando as comunidades.
1 Chegou a Derbe e depois a Listra. Havia ali um discípulo, chamado Timóteo, filho de uma judia cristã, mas de pai grego, 2 que gozava de ótima reputação junto dos irmãos de Listra e de Icônio. 3 Paulo quis que ele fosse em sua companhia. Ao tomá-lo consigo, circuncidou-o, por causa dos judeus daqueles lugares, pois todos sabiam que o seu pai era grego. 4 Nas cidades pelas quais passavam, ensinavam que observassem as decisões que haviam sido tomadas pelos apóstolos e anciãos em Jerusalém. 5 Assim as igrejas eram confirmadas na fé, e cresciam em número dia a dia. 6 Atravessando em seguida a Frígia e a província da Galácia, foram impedidos pelo Espírito Santo de anunciar a palavra de Deus na (província da) Ásia. 7 Ao chegarem aos confins da Mísia, tencionavam seguir para a Bitínia, mas o Espírito de Jesus não o permitiu. 8 Depois de haverem atravessado rapidamente a Mísia, desceram a Trôade. 9 De noite, Paulo teve uma visão: um macedônio, em pé, diante dele, lhe rogava: Passa à Macedônia, e vem em nosso auxílio! 10 Assim que teve essa visão, procuramos partir para a Macedônia, certos de que Deus nos chamava a pregar-lhes o Evangelho. 11 Embarcados em Trôade, fomos diretamente à Samotrácia e no outro dia a Neápolis; 12 e dali a Filipos, que é a cidade principal daquele distrito da Macedônia, uma colônia (romana). Nesta cidade nos detivemos por alguns dias. 13 No sábado, saímos fora da porta para junto do rio, onde pensávamos haver lugar de oração. Aí nos assentamos e falávamos às mulheres que se haviam reunido. 14 Uma mulher, chamada Lídia, da cidade dos tiatirenos, vendedora de púrpura, temente a Deus, nos escutava. O Senhor abriu-lhe o coração, para atender às coisas que Paulo dizia. 15 Foi batizada juntamente com a sua família e fez-nos este pedido: Se julgais que tenho fé no Senhor, entrai em minha casa e ficai comigo. E obrigou-nos a isso. 16 Certo dia, quando íamos à oração, eis que nos veio ao encontro uma moça escrava que tinha o espírito de Pitão, a qual com as suas adivinhações dava muito lucro a seus senhores. 17 Pondo-se a seguir a Paulo e a nós, gritava: Estes homens são servos do Deus Altíssimo, que vos anunciam o caminho da salvação. 18 Repetiu isto por muitos dias. Por fim, Paulo enfadou-se. Voltou-se para ela e disse ao espírito: Ordeno-te em nome de Jesus Cristo que saias dela. E na mesma hora ele saiu. 19 Vendo seus amos que se lhes esvaecera a esperança do lucro, pegaram Paulo e Silas e levaram-nos ao foro, à presença das autoridades. 20 Em seguida, apresentaram-nos aos magistrados, acusando: Estes homens são judeus; amotinam a nossa cidade. 21 E pregam um modo de vida que nós, romanos, não podemos admitir nem seguir. 22 O povo insurgiu-se contra eles. Os magistrados mandaram arrancar-lhes as vestes para açoitá-los com varas. 23 Depois de lhes terem feito muitas chagas, meteram-nos na prisão, mandando ao carcereiro que os guardasse com segurança. 24 Este, conforme a ordem recebida, meteu-os na prisão inferior e prendeu-lhes os pés ao cepo. 25 Pela meia-noite, Paulo e Silas rezavam e cantavam um hino a Deus, e os prisioneiros os escutavam. 26 Subitamente, sentiu-se um terremoto tão grande que se abalaram até os fundamentos do cárcere. Abriram-se logo todas as portas e soltaram-se as algemas de todos. 27 Acordou o carcereiro e, vendo abertas as portas do cárcere, supôs que os presos haviam fugido. Tirou da espada e queria matar-se. 28 Mas Paulo bradou em alta voz: Não te faças nenhum mal, pois estamos todos aqui. 29 Então o carcereiro pediu luz, entrou e lançou-se trêmulo aos pés de Paulo e Silas. 30 Depois os conduziu para fora e perguntou-lhes: Senhores, que devo fazer para me salvar? 31 Disseram-lhe: Crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu e tua família. 32 Anunciaram-lhe a palavra de Deus, a ele e a todos os que estavam em sua casa. 33 Então, naquela mesma hora da noite, ele cuidou deles e lavou-lhes as chagas. Imediatamente foi batizado, ele e toda a sua família. 34 Em seguida, ele os fez subir para sua casa, pôs-lhes a mesa e alegrou-se com toda a sua casa por haver crido em Deus. 35 Quando amanheceu, os magistrados mandaram os lictores dizer: Solta esses homens. 36 O carcereiro transmitiu essa mensagem a Paulo: Os magistrados mandaram-me dizer que vos ponha em liberdade. Saí, pois, e ide em paz. 37 Mas Paulo replicou: Sem nenhum julgamento nos açoitaram publicamente, a nós que somos cidadãos romanos, e meteram-nos no cárcere, e agora nos lançam fora ocultamente... Não há de ser assim! Mas venham e soltem-nos pessoalmente! 38 Os lictores deram parte dessas palavras aos magistrados. Estes temeram, ao ouvir dizer que eram romanos. 39 Foram e lhes falaram brandamente. Pedindo desculpas, rogavam-lhes que se retirassem da cidade. 40 Saindo do cárcere, entraram em casa de Lídia, onde reviram e consolaram os irmãos. Depois partiram.
1 Passaram por Anfípolis e Apolônia e chegaram a Tessalônica, onde havia uma sinagoga de judeus. 2 Paulo dirigiu-se a eles, segundo o seu costume, e por três sábados disputou com eles. 3 Explicava e demonstrava, à base das Escrituras, que era necessário que Cristo padecesse e ressurgisse dos mortos. E este Cristo é Jesus que eu vos anuncio. 4 Alguns deles creram e associaram-se a Paulo e Silas, como também uma grande multidão de prosélitos gentios, e não poucas mulheres de destaque. 5 Os judeus, tomados de inveja, ajuntaram alguns homens da plebe e com esta gente amotinaram a cidade. Assaltaram a casa de Jasão, procurando-os para os entregar ao povo. 6 Mas como não os achassem, arrastaram Jasão e alguns irmãos à presença dos magistrados, clamando: Estes homens amotinam todo o mundo. Estão agora aqui! E Jasão os acolheu! 7 Todos eles contrariam os decretos de César, proclamando outro rei: Jesus. 8 Assim excitavam o povo e os magistrados. 9 E só depois de receberem uma caução de Jasão e dos outros é que os deixaram ir. 10 Logo que se fez noite, os irmãos enviaram Paulo e Silas para Beréia. Quando ali chegaram, entraram na sinagoga dos judeus. 11 Estes eram mais nobres do que os de Tessalônica e receberam a palavra com ansioso desejo, indagando todos os dias, nas Escrituras, se essas coisas eram de fato assim. 12 Muitos deles creram, como também muitas mulheres gregas da aristocracia, e não poucos homens. 13 Mas os judeus de Tessalônica, sabendo que também em Beréia tinha sido pregada por Paulo a palavra de Deus, foram para lá agitar e sublevar o povo. 14 Então os irmãos fizeram que Paulo se retirasse e fosse até o mar, ao passo que Silas e Timóteo ficaram ali. 15 Os que conduziam Paulo levaram-no até Atenas. De lá voltaram e transmitiram para Silas e Timóteo a ordem de que fossem ter com ele o mais cedo possível. 16 Enquanto Paulo os esperava em Atenas, à vista da cidade entregue à idolatria, o seu coração enchia-se de amargura. 17 Disputava na sinagoga com os judeus e prosélitos, e todos os dias, na praça, com os que ali se encontravam. 18 Alguns filósofos epicureus e estóicos conversaram com ele. Diziam uns: Que quer dizer esse tagarela? Outros: Parece que é pregador de novos deuses. Pois lhes anunciava Jesus e a Ressurreição. 19 Tomaram-no consigo e levaram-no ao Areópago, e lhe perguntaram: Podemos saber que nova doutrina é essa que pregas? 20 Pois o que nos trazes aos ouvidos nos parece muito estranho. Queremos saber o que vem a ser isso. 21 Ora (como se sabe), todos os atenienses e os forasteiros que ali se fixaram não se ocupavam de outra coisa senão a de dizer ou de ouvir as últimas novidades. 22 Paulo, em pé no meio do Areópago, disse: Homens de Atenas, em tudo vos vejo muitíssimo religiosos. 23 Percorrendo a cidade e considerando os monumentos do vosso culto, encontrei também um altar com esta inscrição: A um Deus desconhecido. O que adorais sem o conhecer, eu vo-lo anuncio! 24 O Deus, que fez o mundo e tudo o que nele há, é o Senhor do céu e da terra, e não habita em templos feitos por mãos humanas. 25 Nem é servido por mãos de homens, como se necessitasse de alguma coisa, porque é ele quem dá a todos a vida, a respiração e todas as coisas. 26 Ele fez nascer de um só homem todo o gênero humano, para que habitasse sobre toda a face da terra. Fixou aos povos os tempos e os limites da sua habitação. 27 Tudo isso para que procurem a Deus e se esforcem por encontrá-lo como que às apalpadelas, pois na verdade ele não está longe de cada um de nós. 28 Porque é nele que temos a vida, o movimento e o ser, como até alguns dos vossos poetas disseram: Nós somos também de sua raça... 29 Se, pois, somos da raça de Deus, não devemos pensar que a divindade é semelhante ao ouro, à prata ou à pedra lavrada por arte e gênio dos homens. 30 Deus, porém, não levando em conta os tempos da ignorância, convida agora a todos os homens de todos os lugares a se arrependerem. 31 Porquanto fixou o dia em que há de julgar o mundo com justiça, pelo ministério de um homem que para isso destinou. Para todos deu como garantia disso o fato de tê-lo ressuscitado dentre os mortos. 32 Quando o ouviram falar de ressurreição dos mortos, uns zombavam e outros diziam: A respeito disso te ouviremos outra vez. 33 Assim saiu Paulo do meio deles. 34 Todavia, alguns homens aderiram a ele e creram: entre eles, Dionísio, o areopagita, e uma mulher chamada Dâmaris; e com eles ainda outros.
1 Depois disso, saindo de Atenas, Paulo dirigiu-se a Corinto. 2 Encontrou ali um judeu chamado Áquila, natural do Ponto, e sua mulher Priscila. Eles pouco antes haviam chegado da Itália, por Cláudio ter decretado que todos os judeus saíssem de Roma. Paulo uniu-se a eles. 3 Como exercessem o mesmo ofício, morava e trabalhava com eles. (Eram fabricantes de tendas.) 4 Todos os sábados ele falava na sinagoga e procurava convencer os judeus e os gregos. 5 Quando Silas e Timóteo chegaram da Macedônia, Paulo dedicou-se inteiramente à pregação da palavra, dando aos judeus testemunho de que Jesus era o Messias. 6 Mas como esses contradissessem e o injuriassem, ele, sacudindo as vestes, disse-lhes: O vosso sangue caia sobre a vossa cabeça! Tenho as mãos inocentes. Desde agora vou para o meio dos gentios. 7 Saindo dali, entrou em casa de um prosélito, chamado Tício Justo, cuja casa era contígua à sinagoga. 8 Entretanto Crispo, o chefe da sinagoga, acreditou no Senhor com todos os da sua casa. Sabendo disso, muitos dos coríntios, ouvintes de Paulo, acreditaram e foram batizados. 9 Numa noite, o Senhor disse a Paulo em visão: Não temas! Fala e não te cales. 10 Porque eu estou contigo. Ninguém se aproximará de ti para te fazer mal, pois tenho um numeroso povo nesta cidade. 11 Paulo deteve-se ali um ano e seis meses, ensinando a eles a palavra de Deus. 12 Sendo Galião procônsul da Acaia, levantaram-se os judeus de comum acordo contra Paulo e levaram-no ao tribunal e disseram: 13 Este homem persuade os ouvintes a (adotar) um culto contrário à lei. 14 Paulo ia falar, mas Galião disse aos judeus: Se fosse, na realidade, uma injustiça ou verdadeiro crime, seria razoável que vos atendesse. 15 Mas se são questões de doutrina, de nomes e da vossa lei, isso é lá convosco. Não quero ser juiz dessas coisas. 16 E mandou-o sair do tribunal. 17 Então todos pegaram em Sóstenes, chefe da sinagoga, e o espancaram diante do tribunal, sem que Galião fizesse caso algum disso. 18 Paulo permaneceu ali (em Corinto) ainda algum tempo. Depois se despediu dos irmãos e navegou para a Síria e com ele Priscila e Áquila. Antes, porém, cortara o cabelo em Cêncris, porque terminara um voto. 19 Chegaram a Éfeso, onde os deixou. Ele entrou na sinagoga e entretinha-se com os judeus. 20 Pediram-lhe estes que ficasse com eles ali por mais tempo, mas ele não quis. 21 Ao despedir-se, disse: Voltarei a vós, se Deus quiser. E partiu de Éfeso. 22 Viajou até Cesaréia, subiu (a Jerusalém) e saudou a comunidade e logo em seguida desceu a Antioquia. 23 Aí se demorou apenas por algum tempo, partiu de novo e atravessou sucessivamente as regiões da Galácia e da Frígia, fortalecendo todos os discípulos. 24 Entrementes, um judeu chamado Apolo, natural de Alexandria, homem eloqüente e muito versado nas Escrituras, chegou a Éfeso. 25 Era instruído no caminho do Senhor, falava com fervor de espírito e ensinava com precisão a respeito de Jesus, embora conhecesse somente o batismo de João. 26 Começou, pois, a falar na sinagoga com desassombro. Como Priscila e Áquila o ouvissem, levaram-no consigo, e expuseram-lhe mais profundamente o caminho do Senhor. 27 Como ele quisesse ir à Acaia, os irmãos animaram-no e escreveram aos discípulos que o recebessem bem. A sua presença (em Corinto) foi, pela graça de Deus, de muito proveito para os que haviam crido, 28 pois com grande veemência refutava publicamente os judeus, provando, pelas Escrituras, que Jesus era o Messias.
1 Enquanto Apolo estava em Corinto, Paulo atravessou as províncias superiores e chegou a Éfeso, onde achou alguns discípulos e indagou deles: 2 Recebestes o Espírito Santo, quando abraçastes a fé? Responderam-lhe: Não, nem sequer ouvimos dizer que há um Espírito Santo! 3 Então em que batismo fostes batizados?, perguntou Paulo. Disseram: No batismo de João. 4 Paulo então replicou: João só dava um batismo de penitência, dizendo ao povo que cresse naquele que havia de vir depois dele, isto é, em Jesus. 5 Ouvindo isso, foram batizados em nome do Senhor Jesus. 6 E quando Paulo lhes impôs as mãos, o Espírito Santo desceu sobre eles, e falavam em línguas estranhas e profetizavam. 7 Eram ao todo uns doze homens. 8 Paulo entrou na sinagoga e falou com desassombro por três meses, disputando e persuadindo-os acerca do Reino de Deus. 9 Mas, como alguns se endurecessem e não cressem, desacreditando a sua doutrina diante da multidão, apartou-se deles e reuniu à parte os discípulos, onde os ensinava diariamente na escola de um certo Tirano. 10 Isto durou dois anos, de tal maneira que todos os habitantes da Ásia, judeus e gentios, puderam ouvir a palavra do Senhor. 11 Deus fazia milagres extraordinários por intermédio de Paulo, de modo que lenços e outros panos que tinham tocado o seu corpo eram levados aos enfermos; 12 e afastavam-se deles as doenças e retiravam-se os espíritos malignos. 13 Alguns judeus exorcistas que percorriam vários lugares inventaram invocar o nome do Senhor Jesus sobre os que se achavam possessos dos espíritos malignos, com as palavras: Esconjuro-vos por Jesus, a quem Paulo prega. 14 Assim procediam os sete filhos de um judeu chamado Cevas, sumo sacerdote. 15 Mas o espírito maligno replicou-lhes: Conheço Jesus e sei quem é Paulo. Mas vós, quem sois? 16 Nisto o homem possuído do espírito maligno, saltando sobre eles, apoderou-se de dois deles e subjugou-os de tal maneira, que tiveram que fugir daquela casa feridos e com as roupas estraçalhadas. 17 Este caso tornou-se (em breve) conhecido de todos os judeus e gregos de Éfeso, e encheu-os de temor e engrandeceram o nome do Senhor Jesus. 18 Muitos dos que haviam acreditado vinham confessar e declarar as suas obras. 19 Muitos também, que tinham exercido artes mágicas, ajuntaram os seus livros e queimaram-nos diante de todos. Calculou-se o seu valor, e achou-se que montava a cinqüenta mil moedas de prata. 20 Foi assim que o poder do Senhor fez crescer a palavra e a tornou sempre mais eficaz. 21 Concluídas essas coisas, Paulo resolveu ir a Jerusalém, depois de atravessar a Macedônia e a Acaia. Depois de eu ter estado lá, disse ele, é necessário que veja também Roma. 22 Enviou à Macedônia dois dos seus auxiliares, Timóteo e Erasto, mas ele mesmo se demorou ainda por algum tempo na Ásia. 23 Por esse tempo, ocorreu um grande alvoroço a respeito do Evangelho. 24 Um ourives, chamado Demétrio, que fazia de prata templozinhos de Ártemis, dava muito a ganhar aos artífices. 25 Convocou-os, juntamente com os demais operários do mesmo ramo, e disse: Conheceis o lucro que nos resulta desta indústria. 26 Ora, estais vendo e ouvindo que não só em Éfeso, mas quase em toda a Ásia, esse Paulo tem persuadido e desencaminhado muita gente, dizendo que não são deuses os ídolos que são feitos por mãos de homens. 27 Daí não somente há perigo de que essa nossa corporação caia em descrédito, como também que o templo da grande Ártemis seja desconsiderado, e até mesmo seja despojada de sua majestade aquela que toda a Ásia e o mundo inteiro adoram. 28 Estas palavras encheram-nos de ira e puseram-se a gritar: Viva a Ártemis dos efésios! 29 A cidade alvoroçou-se e todos correram ao teatro levando consigo Caio e Aristarco, macedônios e companheiros de Paulo. 30 Paulo queria apresentar-se ao povo, mas os discípulos não o deixaram. 31 Até alguns dos asiarcas, que eram seus amigos, enviaram-lhe recado, pedindo que não se aventurasse a ir ao teatro. 32 Todos gritavam ao mesmo tempo. A assembléia era uma grande confusão e a maioria nem sabia por que se achavam ali reunidos. 33 Então fizeram sair do meio da turba Alexandre, que os judeus empurravam para a frente. Alexandre, fazendo sinal com a mão, queria dar satisfação ao povo. 34 Mas quando perceberam que ele era judeu, todos a uma voz gritaram pelo espaço de quase duas horas: Viva a Ártemis dos efésios! 35 Então o escrivão da cidade (veio) para apaziguar a multidão e disse: Efésios, que homem há que não saiba que a cidade de Éfeso cultua a grande Ártemis, e que a sua estátua caiu dos céus? 36 Se isso é incontestável, convém que vos sossegueis e nada façais inconsideradamente. 37 Estes homens, que aqui trouxestes, não são sacrílegos nem blasfemadores da vossa deusa. 38 Mas, se Demétrio e os outros artífices têm alguma queixa contra alguém, os tribunais estão abertos e aí estão os magistrados: institua-se um processo contra eles. 39 Se tendes reclamação a fazer, a assembléia legal decidirá. 40 Do que se deu hoje, até corremos risco de sermos acusados de rebelião, porque não há motivo algum que nos permita justificar este concurso. 41 A estas palavras, dissolveu-se a aglomeração.
1 Depois que cessou o tumulto, Paulo convocou os discípulos. Fez-lhes uma exortação, despediu-se e pôs-se a caminho para ir à Macedônia. 2 Percorreu aquela região, exortou os discípulos com muitas palavras e chegou à Grécia, 3 onde se deteve por três meses. Como os judeus lhe armassem ciladas no momento em que ia embarcar para a Síria, tomou a resolução de voltar pela Macedônia. 4 Acompanharam-no Sópatro de Beréia, filho de Pirro, e os tessalonicenses Aristarco e Segundo, Gaio de Derbe, Timóteo, Tíquico e Trófimo, da Ásia. 5 Estes foram na frente e esperaram-nos em Trôade. 6 Nós outros, só depois da festa de Páscoa é que navegamos de Filipos. E, cinco dias depois, fomos ter com eles em Trôade, onde ficamos uma semana. 7 No primeiro dia da semana, estando nós reunidos para partir o pão, Paulo, que havia de viajar no dia seguinte, conversava com os discípulos e prolongou a palestra até a meia-noite. 8 Havia muitas lâmpadas no quarto, onde nos achávamos reunidos. 9 Acontece que um moço, chamado Êutico, que estava sentado numa janela, foi tomado de profundo sono, enquanto Paulo ia prolongando seu discurso. Vencido pelo sono, caiu do terceiro andar abaixo, e foi levantado morto. 10 Paulo desceu, debruçou-se sobre ele, tomou-o nos braços e disse: Não vos perturbeis, porque a sua alma está nele. 11 Então subiu, partiu o pão, comeu falou-lhes largamente até o romper do dia. Depois partiu. 12 Quanto ao moço, levaram-no dali vivo, cheios de consolação. 13 Nós nos tínhamos adiantado e navegado para Assos, para ali recebermos Paulo. Ele mesmo assim o havia disposto, preferindo fazer a viagem a pé. 14 Reuniu-se a nós em Assos, e nós o tomamos a bordo e fomos a Mitilene. 15 Continuando dali, sempre por mar, chegamos no dia seguinte defronte de Quios. No outro dia, chegamos a Samos, e um dia depois estávamos em Mileto. 16 Paulo havia determinado não ir a Éfeso, para não se demorar na Ásia, pois se apressava para celebrar, se possível em Jerusalém, o dia de Pentecostes. 17 Mas de Mileto mandou a Éfeso chamar os anciãos da igreja. 18 Quando chegaram, e estando todos reunidos, disse-lhes: Vós sabeis de que modo sempre me tenho comportado para convosco, desde o primeiro dia em que entrei na Ásia. 19 Servi ao Senhor com toda a humildade, com lágrimas e no meio das provações que me sobrevieram pelas ciladas dos judeus. 20 Vós sabeis como não tenho negligenciado, como não tenho ocultado coisa alguma que vos podia ser útil. Preguei e vos instruí publicamente e dentro de vossas casas. 21 Preguei aos judeus e aos gentios a conversão a Deus e a fé em nosso Senhor Jesus. 22 Agora, constrangido pelo Espírito, vou a Jerusalém, ignorando a que ali me espera. 23 Só sei que, de cidade em cidade, o Espírito Santo me assegura que me esperam em Jerusalém cadeias e perseguições. 24 Mas nada disso temo, nem faço caso da minha vida, contanto que termine a minha carreira e o ministério da palavra que recebi do Senhor Jesus, para dar testemunho ao Evangelho da graça de Deus. 25 Sei agora que não tornareis a ver a minha face, todos vós, por entre os quais andei pregando o Reino de Deus. 26 Portanto, hoje eu protesto diante de vós que sou inocente do sangue de todos, 27 porque nada omiti no anúncio que vos fiz dos desígnios de Deus. 28 Cuidai de vós mesmos e de todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastorear a Igreja de Deus, que ele adquiriu com o seu próprio sangue. 29 Sei que depois da minha partida se introduzirão entre vós lobos cruéis, que não pouparão o rebanho. 30 Mesmo dentre vós surgirão homens que hão de proferir doutrinas perversas, com o intento de arrebatarem após si os discípulos. 31 Vigiai! Lembrai-vos, portanto, de que por três anos não cessei, noite e dia, de admoestar, com lágrimas, a cada um de vós. 32 Agora eu vos encomendo a Deus e à palavra da sua graça, àquele que é poderoso para edificar e dar a herança com os santificados. 33 De ninguém cobicei prata, nem ouro, nem vestes. 34 Vós mesmos sabeis: estas mãos proveram às minhas necessidades e às dos meus companheiros. 35 Em tudo vos tenho mostrado que assim, trabalhando, convém acudir os fracos e lembrar-se das palavras do Senhor Jesus, porquanto ele mesmo disse: É maior felicidade dar que receber! 36 A essas palavras, ele se pôs de joelhos a orar. 37 Derramaram-se em lágrimas e lançaram-se ao pescoço de Paulo para abraçá-lo, 38 aflitos, sobretudo pela palavra que tinha dito: Já não vereis a minha face. Em seguida, acompanharam-no até o navio.
1 Depois de nos separarmos dele, embarcamos e fomos em direção a Cós, e no dia seguinte a Rodes e dali a Pátara. 2 Encontramos aí um navio que ia partir para a Fenícia. Entramos e seguimos viagem. 3 Quando estávamos à vista de Chipre, deixando-a à esquerda, continuamos rumo à Síria e aportamos em Tiro, onde o navio devia ser descarregado. 4 Como achássemos uns discípulos, detivemo-nos com eles por sete dias. Eles, sob a inspiração do Espírito, aconselhavam Paulo que não subisse a Jerusalém. 5 Mas, passados que foram esses dias, partimos e seguimos a nossa viagem. Todos eles com suas mulheres e filhos acompanharam-nos até fora da cidade. Ajoelhados na praia, fizemos a nossa oração. 6 Despedimo-nos então e embarcamos, enquanto eles voltaram para suas casas. 7 Navegando, fomos de Tiro a Ptolemaida, onde saudamos os irmãos, passando um dia com eles. 8 Partindo no dia seguinte, chegamos a Cesaréia e, entrando na casa de Filipe, o Evangelista, que era um dos sete (diáconos), ficamos com ele. 9 Tinha quatro filhas virgens que profetizavam. 10 Já estávamos aí fazia alguns dias, quando chegou da Judéia um profeta, chamado Ágabo. 11 Veio ter conosco, tomou o cinto de Paulo e, amarrando-se com ele pés e mãos, disse: Isto diz o Espírito Santo: assim os judeus em Jerusalém ligarão o homem a quem pertence este cinto e o entregarão às mãos dos pagãos. 12 A estas palavras, nós e os fiéis que eram daquele lugar, rogamos-lhe que não subisse a Jerusalém. 13 Paulo, porém, respondeu: Por que chorais e me magoais o coração? Pois eu estou pronto não só a ser preso, mas também a morrer em Jerusalém pelo nome do Senhor Jesus. 14 Como não pudéssemos persuadi-lo, desistimos, dizendo: Faça-se a vontade do Senhor! 15 Depois desses dias, terminados os preparativos, subimos a Jerusalém. 16 Foram também conosco alguns dos discípulos de Cesaréia, que nos levaram à casa de Menason de Chipre, um antigo discípulo em cuja casa nos devíamos hospedar. 17 À nossa chegada em Jerusalém, os irmãos nos receberam com alegria. 18 No dia seguinte, Paulo dirigiu-se conosco à casa de Tiago, onde todos os anciãos se reuniram. 19 Tendo-os saudado, contou-lhes uma por uma todas as coisas que Deus fizera entre os pagãos por seu ministério. 20 Ouvindo isso, glorificaram a Deus e disseram a Paulo: Bem vês, irmão, quantos milhares de judeus abraçaram a fé sem abandonar seu zelo pela lei. 21 Eles têm ouvido dizer de ti que ensinas os judeus, que vivem entre os gentios, a deixarem Moisés, dizendo que não devem circuncidar os seus filhos nem observar os costumes (mosaicos). 22 Que se há de fazer? Sem dúvida, saberão de tua chegada. 23 Faze, pois, o que te vamos dizer. Temos aqui quatro homens que têm um voto. 24 Toma-os contigo, faze com eles os ritos da purificação e paga por eles (a oferta obrigatória) para que rapem a cabeça. Então todos saberão que é falso quanto de ti ouviram, mas que também tu guardas a lei. 25 Mas a respeito dos que creram dentre os gentios, já escrevemos, ordenando que se abstenham do que for sacrificado aos ídolos, do sangue, da carne sufocada e da fornicação. 26 Então Paulo acompanhou aqueles homens no dia seguinte e, purificando-se com eles, entrou no templo e fez aí uma declaração do termo do voto, findo o qual se devia oferecer um sacrifício a favor de cada um deles. 27 Ao fim dos sete dias, os judeus, vindos da Ásia, viram Paulo no templo e amotinaram todo o povo. Lançando-lhe as mãos, 28 gritavam: Ó judeus, valei-nos! Este é o homem que por toda parte prega a todos contra o povo, a lei e o templo. Além disso, introduziu até gregos no templo e profanou o lugar santo. 29 É que tinham visto Trófimo, de Éfeso, com ele na cidade, e pensavam que Paulo o tivesse introduzido no templo. 30 Alvoroçou-se toda a cidade com grande ajuntamento de povo. Agarraram Paulo e arrastaram-no para fora do templo, cujas portas se fecharam imediatamente. 31 Como quisessem matá-lo, o tribuno da coorte foi avisado de que toda Jerusalém estava amotinada. 32 Ele tomou logo soldados e oficiais e correu aos manifestantes. Estes, ao avistarem o tribuno e os saldados, cessaram de espancar Paulo. 33 Aproximando-se então o tribuno, prendeu-o e mandou acorrentá-lo com duas cadeias. Perguntou então quem era e o que havia feito. 34 Na multidão todos gritavam de tal modo que, não podendo apurar a verdade por causa do tumulto, mandou que fosse recolhido à cidadela. 35 Quando Paulo chegou às escadas, foi carregado pelos soldados, por causa do furor da multidão. 36 O povo o seguia em massa dizendo aos gritos: À morte 37 Quando estava para ser introduzido na fortaleza, Paulo perguntou ao tribuno: É-me permitido dizer duas palavras? Este respondeu: Sabes o grego! 38 Não és tu, portanto, aquele egípcio que há tempos levantou um tumulto e conduziu ao deserto quatro mil extremistas? 39 Paulo replicou: Eu sou judeu, natural de Tarso, na Cilícia, cidadão dessa ilustre cidade. Mas rogo-te que me permitas falar ao povo. 40 O tribuno lho permitiu. Paulo, em pé nos degraus, acenou ao povo com a mão e se fez um grande silêncio. Falou em língua hebraica do seguinte modo:
1 Irmãos e pais, ouvi o que vos tenho a dizer em minha defesa. 2 Quando ouviram que lhes falava em língua hebraica, escutaram-no com a maior atenção. 3 Continuou ele: Eu sou judeu, nasci em Tarso da Cilícia, mas criei-me nesta cidade, instruí-me aos pés de Gamaliel, em toda a observância da lei de nossos pais, partidário entusiasta da causa de Deus como todos vós também o sois no dia de hoje. 4 Eu persegui de morte essa doutrina, prendendo e metendo em cárceres homens e mulheres. 5 O sumo sacerdote e todo o conselho dos anciãos me são testemunhas. E foi deles que também recebi cartas para os irmãos de Damasco, para onde me dirigi, com o fim de prender os que lá se achassem e trazê-los a Jerusalém, para que fossem castigados. 6 Ora, estando eu a caminho, e aproximando-me de Damasco, pelo meio-dia, de repente me cercou uma forte luz do céu. 7 Caí por terra e ouvi uma voz que me dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues? 8 Eu repliquei: Quem és tu, Senhor? A voz me disse: Eu sou Jesus de Nazaré, a quem tu persegues. 9 Os meus companheiros viram a luz, mas não ouviram a voz de quem falava. 10 Então eu disse: Senhor, que devo fazer? E o Senhor me respondeu: Levanta-te, vai a Damasco e lá te será dito tudo o que deves fazer. 11 Como eu não pudesse ver por causa da intensidade daquela luz, guiado pela mão dos meus companheiros, cheguei a Damasco. 12 Um certo Ananias, homem piedoso e observador da lei, muito bem conceituado entre todos os judeus daquela cidade, 13 veio ter comigo e disse-me: Irmão Saulo, recobra a tua vista. Naquela mesma hora pude enxergá-lo. 14 Continuou ele: O Deus de nossos pais te predestinou para que conhecesses a sua vontade, visses o Justo e ouvisses a palavra da sua boca, 15 pois lhe serás, diante de todos os homens, testemunha das coisas que tens visto e ouvido. 16 E agora, por que tardas? Levanta-te. Recebe o batismo e purifica-te dos teus pecados, invocando o seu nome. 17 Voltei para Jerusalém e, orando no templo, fui arrebatado em êxtase. 18 E vi Jesus que me dizia: Apressa-te e sai logo de Jerusalém, porque não receberão o teu testemunho a meu respeito. 19 Eu repliquei: Senhor, eles sabem que eu encarcerava e açoitava com varas nas sinagogas os que crêem em ti. 20 E quando se derramou o sangue de Estêvão, tua testemunha, eu estava presente, consentia nisso e guardava os mantos dos que o matavam. 21 Mas ele me respondeu: Vai, porque eu te enviarei para longe, às nações... 22 Haviam-no escutado até essa palavra. Então levantaram a voz: Tira do mundo esse homem! Não é digno de viver! 23 Como vociferassem, arrojassem de si as vestes e lançassem pó ao ar, 24 o tribuno mandou recolhê-lo à cidadela, açoitá-lo e submetê-lo a torturas, para saber por que causa clamavam assim contra ele. 25 Quando o iam amarrando com a correia, Paulo perguntou a um centurião que estava presente: É permitido açoitar um cidadão romano que nem sequer foi julgado? 26 Ao ouvir isso, o centurião foi ter com o tribuno e avisou-o: Que vais fazer? Este homem é cidadão romano. 27 Veio o tribuno e perguntou-lhe: Dize-me, és romano? Sim, respondeu-lhe. 28 O tribuno replicou: Eu adquiri este direito de cidadão por grande soma de dinheiro. Paulo respondeu: Pois eu o sou de nascimento. 29 Apartaram-se então dele os que iam torturá-lo. O tribuno alarmou-se porque o mandara acorrentar, sendo ele um cidadão romano. 30 No dia seguinte, querendo saber com mais exatidão de que os judeus o acusavam, soltou-o e ordenou que se reunissem os sumos sacerdotes e todo o Grande Conselho. Trouxe Paulo e o mandou comparecer diante deles.
1 Paulo, fitando os olhos nos membros do conselho, disse: Irmãos, eu tenho procedido diante de Deus com toda a boa consciência ate o dia de hoje... 2 Mas Ananias, sumo sacerdote, mandou aos que estavam ao seu lado que lhe batessem na boca. 3 Então Paulo lhe disse: Deus te ferirá também a ti, hipócrita! Tu estás aí assentado para julgar-me segundo a lei, e contra a lei mandas que eu seja ferido? 4 Os assistentes disseram: Tu injurias o sumo sacerdote de Deus. 5 Respondeu Paulo: Não sabia, irmãos, que é o sumo sacerdote. Pois está escrito: Não falarás mal do príncipe do teu povo (Ex 22,28). 6 Paulo sabia que uma parte do Sinédrio era de saduceus e a outra de fariseus e disse em alta voz.: Irmãos, eu sou fariseu, filho de fariseus. Por causa da minha esperança na ressurreição dos mortos é que sou julgado. 7 Ao dizer ele estas palavras, houve uma discussão entre os fariseus e os saduceus, e dividiu-se a assembléia. 8 (Pois os saduceus afirmam não haver ressurreição, nem anjos, nem espíritos, mas os fariseus admitem uma e outra coisa.) 9 Originou-se, então, grande vozearia. Levantaram-se alguns escribas dos fariseus e contestaram ruidosamente: Não achamos mal algum neste homem. (Quem sabe) se não lhe falou algum espírito ou um anjo... 10 A discussão fazia-se sempre mais violenta. O tribuno temeu que Paulo fosse despedaçado por eles e mandou aos soldados que descessem, o tirassem do meio deles e o levassem para a cidadela. 11 Na noite seguinte, apareceu-lhe o Senhor e lhe disse: Coragem! Deste testemunho de mim em Jerusalém, assim importa também que o dês em Roma. 12 Quando amanheceu, coligaram-se alguns judeus e juraram com imprecações não comer nem beber nada, enquanto não matassem Paulo. 13 Eram mais de quarenta as pessoas que fizeram essa conjuração. 14 Foram apresentar-se aos sumos sacerdotes e aos cidadãos, dizendo: Juramos solenemente nada comer enquanto não matarmos Paulo. 15 Vós, pois, ide com o conselho requerer do tribuno que o conduza à vossa presença, como se houvésseis de investigar com mais precisão a sua causa; e nós estamos prontos para matá-lo durante o trajeto. 16 Mas um filho da irmã de Paulo, inteirado da cilada, dirigiu-se à cidadela e o comunicou a Paulo. 17 Este chamou a si um dos centuriões e disse-lhe: Leva este moço ao tribuno, porque tem alguma coisa a lhe transmitir. 18 Ele o introduziu à presença do tribuno e lhe disse: O preso Paulo rogou-me que trouxesse este moço à tua presença, porque tem alguma coisa a dizer-te. 19 O tribuno, tomando-o pela mão, retirou-se com ele à parte e perguntou: Que tens a dizer-me? 20 Respondeu-lhe ele: Os judeus têm combinado rogar-te amanhã que apresentes Paulo ao Grande Conselho, como se houvessem de inquirir dele alguma coisa com mais precisão. 21 Mas tu não creias, porque mais de quarenta homens dentre eles lhe armam traição. Juraram solenemente nada comer, nem beber, enquanto não o matarem. Eles já estão preparados e só esperam a tua permissão. 22 Então o tribuno despediu o moço, ordenando-lhe que a ninguém dissesse que o havia avisado. 23 Depois disso, chamou ele dois centuriões e disse-lhes: Preparai duzentos soldados, setenta cavaleiros e duzentos lanceiros para irem a Cesaréia à terceira hora da noite. 24 Aprontai também cavalgaduras para Paulo, que tendes de levar com toda a segurança ao governador Félix. 25 E ele escreveu uma carta nestes termos: 26 Cláudio Lísias ao excelentíssimo governador Félix, saúde! 27 Esse homem foi preso pelos judeus e estava a ponto de ser morto por eles, quando eu, sobrevindo com a tropa, o livrei, ao saber que era romano. 28 Então, querendo saber a causa por que o acusavam, levei-o ao Grande Conselho. 29 Soube que era acusado sobre questões da lei deles, sem haver nele delito algum que merecesse morte ou prisão. 30 Mas, como tivesse chegado a mim a notícia das traições que maquinavam contra ele, envio-o com urgência a ti, intimando também aos acusadores que recorram a ti. Adeus. 31 Os soldados, conforme lhes fora ordenado, tomaram Paulo e o levaram de noite a Antipátride. 32 No dia seguinte, voltaram para a guarnição, deixando que os soldados da cavalaria o escoltassem. 33 À sua chegada a Cesaréia, entregaram ao governador a carta e apresentaram-lhe também Paulo. 34 Ele, depois de lê-la e perguntar de que província ele era, sabendo que era da Cilícia, disse: 35 Ouvir-te-ei quando chegarem teus acusadores. Mandou, então, que Paulo fosse guardado no pretório de Herodes.
1 Cinco dias depois, desceu o sumo sacerdote Ananias com alguns anciãos e Tertulo, advogado. Compareceram eles ante o governador para acusar Paulo. 2 Este foi citado e Tertulo começou a acusá-lo nestes termos: Graças a ti nós gozamos de paz, e pela tua providência se têm corrigido muitos abusos em nossa nação. 3 Nós o reconhecemos em todo o tempo e lugar, excelentíssimo Félix, com toda a gratidão. 4 Mas, para não te enfadar por mais tempo, rogo-te que, na tua bondade, nos ouças por um momento. 5 Encontramos este homem, uma peste, um indivíduo que fomenta discórdia entre os judeus no mundo inteiro. É um dos líderes da seita dos nazarenos. 6 Tentou mesmo profanar o templo. Nós, porém, o prendemos. 7 (Quisemos julgá-lo segundo a nossa lei, mas, sobrevindo o tribuno Lísias, no-lo tirou das mãos com grande violência, ordenando que os seus acusadores comparecessem diante de ti.) 8 Tu mesmo, interrogando-o, poderás verificar todas essas coisas de que nós o acusamos. 9 Os judeus apoiaram o advogado, confirmando que as coisas de fato eram assim. 10 Depois disso, a um sinal do governador, Paulo respondeu: Sabendo eu que há muitos anos és governador desta nação, é com confiança que farei a minha defesa. 11 Podes verificar que não há mais de doze dias que eu subi a Jerusalém para fazer minhas devoções. 12 Não me acharam disputando com alguém, nem amotinando o povo, quer no templo, quer nas sinagogas, ou na cidade. 13 Nem tampouco te podem provar as coisas de que agora me acusam. 14 Reconheço na tua presença que, segundo a doutrina que eles chamam de sectária, sirvo a Deus de nossos pais, crendo em todas as coisas que estão escritas na lei e nos profetas. 15 Tenho esperança em Deus, como também eles esperam, de que há de haver a ressurreição dos justos e dos pecadores. 16 Por isso, procuro ter sempre sem mácula a minha consciência diante de Deus e dos homens. 17 Depois de muitos anos (de ausência) vim trazer à minha nação esmolas e oferendas (rituais). 18 Nesta ocasião, acharam-me no templo, depois de uma purificação, sem aglomeração e sem tumulto. 19 Viram-me ali uns judeus vindos da Ásia, e estes é que deviam comparecer diante de ti e me acusar, se tivessem alguma queixa contra mim. 20 Ou digam estes aqui que crime terão achado em mim, quando eu compareci diante do Grande Conselho. 21 A não ser esta única frase que proferi em voz alta no meio deles: Por causa da ressurreição dos mortos é que sou julgado hoje diante de vós! 22 Félix conhecia bem esta religião e, adiando a questão, disse: Quando descer o tribuno Lísias, então examinarei a fundo a vossa questão. 23 Ordenou ao centurião que o guardasse e o tratasse com brandura, sem proibir que os seus o servissem. 24 Passados que foram alguns dias, veio Félix com sua mulher Drusila, que era judia. Chamou Paulo e ouvia-o falar da fé em Jesus Cristo. 25 Mas, como Paulo lhe falasse sobre a justiça, a castidade e o juízo futuro, Félix, todo atemorizado, disse-lhe: Por ora, podes retirar-te. Na primeira ocasião, chamar-te-ei. 26 Esperava outrossim, ao mesmo tempo, que Paulo lhe desse algum dinheiro, pelo que o mandava chamar com freqüência e se entretinha com ele. 27 Decorridos dois anos, Félix teve por sucessor a Pórcio Festo. Querendo, porém, agradar aos judeus, deixou Paulo na prisão.
1 Três dias depois de sua chegada à província, Festo subiu de Cesaréia a Jerusalém. 2 Aí os sumos sacerdotes e os judeus mais notáveis foram ter com ele, acusando Paulo, e rogaram-lhe, 3 com insistência, como um favor, que o mandasse de volta para Jerusalém. É que queriam armar-lhe uma emboscada para o assassinarem no caminho. 4 Festo, porém, respondeu que Paulo se achava detido em Cesaréia e que ele mesmo partiria para lá dentro de poucos dias. E acrescentou: 5 Portanto, os que dentre vós são de prestígio desçam comigo; e se houver algum crime nesse homem, acusem-no. 6 Demorou-se entre eles cerca de oito ou dez dias e desceu a Cesaréia. No dia seguinte, sentou-se no tribunal e citou Paulo. 7 Assim que este compareceu, rodearam-no os judeus que tinham descido de Jerusalém e acusaram-no de muitos e graves delitos que não podiam provar. 8 Paulo alegava em sua defesa: Em nada tenho pecado contra a lei dos judeus, nem contra o templo, nem contra César! 9 Mas Festo, querendo agradar aos judeus, disse a Paulo: Queres subir a Jerusalém e ser julgado ali diante de mim? 10 Paulo, porém, disse: Estou perante o tribunal de César. É lá que devo ser julgado. Não fiz mal algum aos judeus, como bem sabes. 11 Se lhes tenho feito algum mal ou coisa digna de morte, não recuso morrer. Mas, se nada há daquilo de que estes me acusam, ninguém tem o direito de entregar-me a eles. Apelo para César! 12 Então Festo conferenciou com os seus assessores e respondeu: Para César apelaste, a César irás. 13 Alguns dias depois, o rei Agripa e Berenice desceram a Cesaréia para saudar Festo. 14 Como se demorassem ali muitos dias, Festo expôs ao rei o caso de Paulo: Félix deixou preso aqui um certo homem. 15 Quando estive em Jerusalém, os sumos sacerdotes e os anciãos dos judeus vieram queixar-se dele comigo pedindo a sua condenação. 16 Respondi-lhes que não era costume dos romanos condenar homem algum, antes de ter confrontado o acusado com os seus acusadores e antes de se lhes dar a liberdade de defender-se dos crimes que lhes são imputados. 17 Compareceram aqui. E eu, sem demora, logo no dia seguinte, dei audiência e ordenei que conduzissem esse homem. 18 Apresentaram-se os seus acusadores, mas não o acusaram de nenhum dos crimes de que eu suspeitava. 19 Eram só desavenças entre eles a respeito da sua religião, e uma discussão a respeito de um tal Jesus, já morto, e que Paulo afirma estar vivo. 20 Vi-me perplexo quanto ao modo de inquirir essas questões e perguntei-lhe se queria ir a Jerusalém e ser ali julgado. 21 Mas, como Paulo apelou para o julgamento do imperador, mandei que fique detido até que o remeta a César. 22 Agripa disse então a Festo: Eu também desejava ouvir esse homem. Ao que ele respondeu: Amanhã o ouvirás. 23 No dia seguinte, Agripa e Berenice apresentaram-se com grande pompa. E, entrando com os tribunos e as pessoas de mais relevo da cidade na sala de audiência, foi também Paulo introduzido por ordem de Festo. 24 Festo tomou a palavra: Ó rei, e todos vós que estais aqui presentes, vedes este homem contra quem os judeus em massa e com grandes gritos vieram reclamar a morte, tanto aqui como em Jerusalém. 25 Mas tenho averiguado que ele não fez coisa alguma digna de morte. Entretanto, havendo ele apelado para o imperador, determinei remeter-lho. 26 Mas dele não tenho nada de positivo que possa escrever ao imperador, e por isso mandei-o comparecer diante de vós, mormente diante de tua majestade, para que essa audiência apure alguma coisa que eu possa escrever. 27 Pois não me parece razoável remeter um preso, sem mencionar ao mesmo tempo as acusações formuladas contra ele.
1 Agripa disse a Paulo: Tens permissão de fazer a tua defesa. Paulo então fez um gesto com a mão e começou a sua justificação: 2 Julgo-me feliz de poder hoje fazer a minha defesa, na tua presença, ó rei Agripa, de tudo quanto me acusam os judeus, 3 porque tu conheces perfeitamente os seus costumes e controvérsias. Peço-te, pois, que me ouças com paciência. 4 Minha vida, desde a minha primeira juventude, tem decorrido no meio de minha pátria e em Jerusalém, e é conhecida dos judeus. 5 Sabem eles, desde longa data, e se quiserem poderão testemunhá-lo, que vivi segundo a seita mais rigorosa da nossa religião, isto é, como fariseu. 6 Mas agora sou acusado em juízo, por esperar a promessa que foi feita por Deus a nossos pais, 7 e a qual as nossas doze tribos esperam alcançar, servindo a Deus noite e dia. Por essa esperança, ó rei, é que sou acusado pelos judeus. 8 Que pensais vós? É coisa incrível que Deus ressuscite os mortos? 9 Também eu acreditei que devia fazer a maior oposição ao nome de Jesus de Nazaré. 10 Assim procedi de fato em Jerusalém e tenho encerrado muitos irmãos em cárceres, havendo recebido para isso poder dos sumos sacerdotes; quando os sentenciavam à morte, eu dava a minha plena aprovação. 11 Muitas vezes, perseguindo-os por todas as sinagogas, eu os maltratava para obrigá-los a blasfemar. Enfurecendo-me mais e mais contra eles, eu os perseguia até no estrangeiro. 12 Nesse intuito, fui a Damasco, com poder e comissão dos sumos sacerdotes. 13 Era meio-dia, ó rei. Eu estava a caminho quando uma luz do céu, mais fulgurante que o sol, brilhou em torno de mim e dos meus companheiros. 14 Caímos todos nós por terra, e ouvi uma voz que me dizia em língua hebraica: Saulo, Saulo, por que me persegues? Dura coisa te é recalcitrar contra o aguilhão. 15 Então eu disse: Quem és, Senhor? O Senhor respondeu: Eu sou Jesus, a quem persegues. 16 Mas levanta-te e põe-te em pé, pois eu te apareci para te fazer ministro e testemunha das coisas que viste e de outras para as quais hei de manifestar-me a ti. 17 Escolhi-te do meio do povo e dos pagãos, aos quais agora te envio 18 para abrir-lhes os olhos, a fim de que se convertam das trevas à luz e do poder de Satanás a Deus, para que, pela fé em mim, recebam perdão dos pecados e herança entre os que foram santificados. 19 Desde então, ó rei, não fui desobediente à visão celestial. 20 Preguei primeiramente aos de Damasco e depois em Jerusalém e por toda a terra da Judéia, e aos pagãos, para que se arrependessem e se convertessem a Deus, fazendo dignas obras correspondentes. 21 Por isso, os judeus me prenderam no templo e tentaram matar-me. 22 Mas, assistido do socorro de Deus, permaneço vivo até o dia de hoje. Dou testemunho a pequenos e a grandes, nada dizendo senão o que os profetas e Moisés disseram que havia de acontecer, 23 a saber: que Cristo havia de padecer e seria o primeiro que, pela ressurreição dos mortos, havia de anunciar a luz ao povo judeu e aos pagãos. 24 Dizendo ele essas coisas em sua defesa, Festo exclamou em alta voz: Estás louco, Paulo! O teu muito saber tira-te o juízo. 25 Paulo, então, respondeu: Não estou louco, excelentíssimo Festo, mas digo palavras de verdade e de prudência. 26 Pois dessas coisas tem conhecimento o rei, em cuja presença falo com franqueza. Sei que nada disso lhe é oculto, porque nenhuma dessas coisas se fez ali ocultamente. 27 Crês, ó rei, nos profetas? Bem sei que crês! 28 Disse então Agripa a Paulo: Por pouco não me persuades a fazer-me cristão! 29 Respondeu Paulo: Prouvera a Deus que, por pouco e por muito, não somente tu, senão também quantos me ouvem, se fizessem hoje tal qual eu sou... menos estas algemas! 30 Então o rei, o governador, Berenice e os que estavam sentados com eles se levantaram. 31 Retirando-se, comentavam uns com os outros: Esse homem não fez coisa que mereça a morte ou prisão. 32 Agripa ainda disse a Festo: Ele poderia ser solto, se não tivesse apelado para César.
1 Logo que foi determinado que embarcássemos para a Itália, Paulo foi entregue com outros presos a um centurião da coorte Augusta, chamado Júlio. 2 Embarcamos num navio de Adramito que devia costear as terras da Ásia, e levantamos âncora. Em nossa companhia estava Aristarco, macedônio de Tessalônica. 3 No dia seguinte, fazendo escala em Sidônia, Júlio, usando de bondade com Paulo, permitiu-lhe ir ver os seus amigos e prover-se do que havia de necessário. 4 Dali, fazendo-nos ao mar, fomos navegando perto das costas de Chipre, por nos serem contrários os ventos. 5 Tendo atravessado o mar da Cilícia e da Panfília, chegamos a Mira, cidade da Lícia. 6 O centurião encontrou ali um navio de Alexandria, que rumava para a Itália, e fez-nos passar para ele. 7 Por muitos dias navegamos lentamente e com dificuldade até diante de Cnido, onde o vento não nos permitiu aportar. 8 Fomos então costeando ao sul da ilha de Creta, junto ao cabo Salmona. Navegando com dificuldade ao longo da costa, chegamos afinal a um lugar, a que chamam Bons Portos, perto do qual está a cidade de Lasaia. 9 Passara o tempo - já havia passado a época do jejum - e a navegação se tornava perigosa. Paulo advertiu-os: 10 Amigos, vejo que a navegação não se fará sem perigo e sem graves danos, não somente ao navio e à sua carga, mas ainda às nossas vidas. 11 O centurião, porém, dava mais crédito ao piloto e ao mestre do que ao que Paulo dizia. 12 O porto era impróprio para passar o inverno, pelo que a maior parte deles foi de parecer que se retornasse ao mar, na esperança de chegar a Fenice, para passar ali o inverno, por ser esse um porto de Creta, abrigado dos ventos do sudeste e do nordeste. 13 Soprava então brandamente o vento sul. Julgavam poder executar os seus planos. Levantaram a âncora e foram costeando de perto a ilha de Creta. 14 Mas, não muito depois, veio do lado da ilha um tufão chamado Euroaquilão. 15 Sem poder resistir à ventania, o navio foi arrebatado e deixamo-nos arrastar. 16 Impelidos rapidamente para uma pequena ilha chamada Cauda, conseguimos, com muito esforço, recolher o batel. 17 Içaram-no e, depois, como meio de segurança, cingiram o navio com cabos. Então, temendo encalhar em Sirte, arriaram as velas e entregaram-se à mercê dos ventos. 18 No dia seguinte, sendo a tempestade ainda mais violenta, atiraram fora a carga. 19 No terceiro dia, atiramos para fora com as nossas próprias mãos os acessórios do navio. 20 Ora, não aparecendo por muitos dias nem sol nem estrelas e sendo batidos por forte tempestade, tínhamos por fim perdido toda a esperança de sermos salvos. 21 Desde muito tempo ninguém havia comido nada. Paulo levantou-se no meio deles e disse: Amigos, deveras devíeis ter-me atendido e não ter saído de Creta, e assim evitar esse perigo e essas perdas. 22 Agora, porém, vos admoesto a que tenhais coragem, pois não perecerá nenhum de vós, mas somente o navio. 23 Esta noite apareceu-me um anjo de Deus, a quem pertenço e a quem sirvo, o qual me disse: 24 Não temas, Paulo. É necessário que compareças diante de César. Deus deu-te todos os que navegam contigo. 25 Por isso, amigos, coragem! Eu confio em Deus que há de acontecer como me foi dito. 26 Vamos dar a uma ilha. 27 Já estávamos na décima quarta noite, pelo mar Adriático, quando, pela meia-noite, os marinheiros pressentiram que estavam perto de alguma terra. 28 Então, atirando a sonda, perceberam que a profundidade era de vinte braças. Depois, um pouco mais adiante, viram que era de quinze braças. 29 Temendo que déssemos em algum recife, lançaram quatro âncoras da popa, esperando ansiosos que amanhecesse o dia. 30 Imediatamente, os marinheiros procuraram fugir e, sob o pretexto de largar as âncoras da proa, lançaram o bote ao mar. 31 Paulo disse ao centurião e aos soldados: Se estes homens não permanecerem no navio, não podereis salvar-vos. 32 Os soldados cortaram, então, os cabos do bote e deixaram-no cair. 33 Enquanto ia amanhecendo, Paulo encorajou a todos que comessem alguma coisa, e disse: Já faz hoje catorze dias que estais em jejum, sem comer nada. 34 Rogo-vos que comais alguma coisa, no interesse de vossa vida, porque nem um cabelo da cabeça de alguém de vós perecerá. 35 Tendo dito isso, tomou do pão, pronunciou uma bênção na presença de todos e, depois de parti-lo, começou a comer. 36 Com isso, todos cobraram ânimo e puseram-se igualmente a comer. 37 No navio éramos ao todo duzentas e setenta e seis pessoas. 38 Depois de terem comido à vontade, aliviaram o navio, atirando o trigo ao mar. 39 Afinal, clareou o dia. Os marinheiros não reconheceram a terra, mas viram uma enseada com uma praia, na qual tencionavam encalhar o navio, caso o pudessem. 40 Levantaram as âncoras e largaram ao mesmo tempo as amarras dos lemes. Desfraldaram ao vento a vela mestra e rumaram para a praia. 41 Mas deram numa língua de terra, e o navio encalhou aí. A proa, encalhada, permanecia imóvel, ao mesmo tempo que a popa se abria com a força do mar. 42 Os soldados tencionavam matar os presos, por temerem que algum deles fugisse a nado. 43 O centurião, porém, querendo salvar Paulo, impediu que o fizessem e ordenou que aqueles que pudessem nadar fossem os primeiros a lançar-se ao mar e alcançar a terra. 44 Os demais, uns atingiram a terra em tábuas, outros em cima dos destroços do navio. Desse modo, todos conseguiram chegar à terra, sãos e salvos.
1 Estando já salvos, soubemos então que a ilha se chamava Malta. 2 Os indígenas trataram-nos com extraordinária benevolência. Acenderam uma grande fogueira e em torno dela nos recolheram, em vista da chuva que caía e do frio que fazia. 3 Paulo ajuntou um feixe de gravetos e o pôs na fogueira. Nisto uma víbora, que fugira ao fogo, mordeu-lhe a mão. 4 Quando os indígenas viram a serpente pendendo da sua mão, diziam uns aos outros: Sem dúvida, este homem é homicida, pois, tendo escapado ao mar, a justiça não o deixa viver. 5 Ele, porém, sacudindo a víbora no fogo, não sofreu mal algum. 6 Julgavam os indígenas que ele viesse a inchar, e que subitamente caísse morto. Mas, depois de esperarem muito tempo, vendo que não lhe acontecia mal nenhum, mudaram de parecer e disseram: Ele é um deus. 7 Havia na vizinhança sítios pertencentes ao principal da ilha, chamado Públio. Este homem nos hospedou por três dias em sua casa, tratando-nos bem. 8 Ora, o pai desse Públio achava-se acamado com febre e sofrendo de disenteria. Paulo foi visitá-lo e, orando e impondo-lhe as mãos, sarou-o. 9 Depois desse fato, vieram ter com ele todos os habitantes da ilha que se achavam doentes, e foram curados. Tiveram assim conosco toda sorte de considerações e, 10 quando estávamos para navegar, proveram-nos do que era necessário. 11 Ao termo de três meses, embarcamos num navio de Alexandria, que havia passado o inverno na ilha. Este navio levava por insígnias os Dióscuros. 12 Fizemos escala em Siracusa, onde ficamos três dias. 13 De lá, seguindo a costa, atingimos Régio. No dia seguinte, soprava o vento sul e chegamos em dois dias a Pozzuoli. 14 Ali encontramos irmãos que nos rogaram que ficássemos na sua companhia sete dias. Em seguida, nos dirigimos a Roma. 15 Os irmãos de Roma foram informados de nossa chegada e vieram ao nosso encontro até o Foro de Ápio e as Três Tavernas. Ao vê-los, Paulo deu graças a Deus e se sentiu animado. 16 Chegados que fomos a Roma, foi concedida licença a Paulo para que ficasse em casa própria com um soldado que o guardava. 17 Três dias depois, Paulo convocou os judeus mais notáveis. Estando reunidos, disse-lhes: Irmãos, sem cometer nada contra o povo nem contra os costumes de nossos pais, fui preso em Jerusalém e entregue nas mãos dos romanos. 18 Estes, depois de terem instruído o meu processo, quiseram soltar-me, visto não achar em mim crime algum que merecesse morte. 19 Mas, opondo-se a isso os judeus, vi-me obrigado a apelar para César, sem intentar contudo acusar de alguma coisa a minha nação. 20 Por esse motivo, mandei chamar-vos, para vos ver e falar convosco. Porquanto, pela esperança de Israel, é que estou preso com esta corrente. 21 Responderam-lhe eles: Não temos recebido carta alguma da Judéia, que fale em ti, nem de lá tem vindo irmão algum que nos dissesse ou falasse mal de ti. 22 Quiséramos, porém, que tu mesmo nos dissesses o que pensas, pois o que nós sabemos dessa seita é que em toda parte lhe fazem oposição. 23 Marcaram um dia e muitos foram procurá-lo no albergue onde se achava hospedado. A entrevista durou desde a manhã até a tarde. Paulo expôs-lhes o Reino de Deus e apresentou, sempre de novo, testemunhos destinados a convencê-los a respeito de Jesus, baseando-se na Lei de Moisés e nos profetas. 24 Alguns se persuadiram pelas suas palavras, outros não acreditaram. 25 Não estando concordes entre si, retiraram-se, enquanto Paulo lhes fazia esta reflexão: Bem falou o Espírito Santo pelo profeta Isaías a vossos pais, dizendo: 26 Vai a este povo e dize-lhes: Com vossos ouvidos ouvireis, sem compreender. Com vossos olhos olhareis, sem enxergar. 27 Coração obstinado o deste povo, ouvido duro, olhos fechados, para não verem com a vista, nem ouvirem com o ouvido, nem entenderem com o coração, e se converterem e eu os curar (Is 6,9s.). 28 Ficai, pois, sabendo que aos gentios é enviada agora esta salvação de Deus; e eles a ouvirão. 29 [Havendo dito isso, saíram dali os judeus, discutindo animosamente entre si.] 30 Paulo permaneceu por dois anos inteiros no aposento alugado, e recebia a todos os que vinham procurá-lo. 31 Pregava o Reino de Deus e ensinava as coisas a respeito do Senhor Jesus Cristo, com toda a liberdade e sem proibição.