NALÉHAVÉ VÝZVY

Bíblia Sagrada

Livro de Tobias


1

1 Tobit, da tribo e da cidade de Neftali (situada na Galiléia superior, acima de Naasson, atrás do caminho do ocidente, tendo à esquerda a cidade de Sefet), 2 foi levado para o cativeiro no tempo de Salmanasar, rei dos assírios. Embora cativo, ele não abandonou o caminho da verdade. 3 Tudo aquilo, de que podia dispor, distribuía cada dia a seus irmãos de raça, que partilhavam com ele sua sorte de cativo. 4 Embora fosse ele o mais jovem da tribo de Neftali, seu proceder nada tinha de pueril. 5 Por isso, enquanto todos eles iam adorar os bezerros de ouro que o rei de Israel, Jeroboão, tinha feito, só ele fugia da companhia de todos e 6 dirigia-se ao templo do Senhor em Jerusalém, onde adorava o Senhor Deus de Israel, oferecendo fielmente as primícias e os dízimos de todos os seus bens. 7 De três em três anos, dava aos prosélitos e aos estrangeiros todo o seu dízimo. 8 Esta e outras práticas semelhantes da lei de Deus, tinha observado desde a sua infância. 9 Quando se tornou adulto, desposou uma mulher de sua tribo, chamada Ana, da qual teve um filho, a quem deu o nome de Tobias. 10 Ensinou-lhe desde a sua mais tenra idade a temer a Deus e a se abster de todo o pecado. 11 Desse modo, quando chegou com sua mulher e seu filho, como cativo, no meio de sua tribo, à cidade de Nínive, 12 embora todos os outros comessem dos alimentos dos pagãos, guardou sua alma pura, e jamais contraiu mancha alguma com seus alimentos. 13 E porque ele conservava com todo o seu coração a lembrança de Deus, Deus tornou-o simpático ao rei Salmanasar, 14 que o autorizou a ir aonde quisesse, e a fazer o que quer que lhe agradasse. 15 Ele ia, pois, visitar todos os deportados e dava-lhes conselhos salutares. 16 Foi um dia a Ragés, cidade da Média, com dez talentos de prata que o rei lhe tinha dado. 17 Encontrando entre a multidão dos seus compatriotas um homem de sua tribo, chamado Gabael, o qual se achava em dificuldades, deu-lhe a sobredita quantia de prata, mediante um recibo. 18 Passou o tempo; Salmanasar morreu e Senaquerib, seu filho, sucedeu-lhe no trono. Ora, Senaquerib odiava os israelitas. 19 Tobit ia diariamente visitar toda a sua parentela, consolava-a e distribuía dos seus bens a cada um, segundo as suas posses. 20 Alimentava os famintos, vestia os nus, e, com uma solicitude toda particular, sepultava os defuntos e os que tinham sido mortos. 21 Quando o rei Senaquerib, fugindo da Judéia ao castigo com que Deus o ferira por suas blasfêmias, mandou assassinar, na sua ira, um grande número de israelitas, Tobit sepultou os seus cadáveres. 22 Denunciaram-no ao rei, que o mandou matar e confiscou todos os seus bens. 23 Tobit, porém, despojado de tudo, fugiu com seu filho e sua mulher e, como tinha muitos amigos, conseguiu permanecer oculto. 24 Ora, quarenta e cinco dias depois, o rei foi assassinado por seus filhos, 25 e Tobit voltou para a sua casa; e foram-lhe restituídos todos os seus bens.

2

1 Algum tempo depois, num dia de festa religiosa, foi preparado um grande banquete na casa de Tobit. 2 Ele disse então ao seu filho: Vai buscar alguns homens piedosos de nossa tribo, para comerem conosco. 3 Ele saiu, mas logo voltou, anunciando ao pai que um dos filhos de Israel jazia degolado na praça. Tobit levantou-se imediatamente da mesa, sem nada haver comido, e foi aonde estava o cadáver. 4 Tomou-o e levou-o clandestinamente para a sua casa, a fim de sepultá-lo com cuidado depois do sol posto. 5 Tendo escondido o cadáver, começou a comer com pranto e tremor, 6 lembrando-se do oráculo que o Senhor tinha pronunciado pela boca do profeta Amós: Vossas festas mudar-se-ão em luto e lamentações (Am 8,10). 7 Quando o sol se pôs, ele foi e o sepultou. 8 Seus vizinhos criticavam-no unanimemente. Já uma vez ordenaram que te matassem, precisamente por isso, e mal escapaste dessa sentença de morte, recomeças a enterrar os cadáveres! 9 Mas Tobit temia mais a Deus que ao rei, e continuava a levar para a sua casa os corpos daqueles que eram assassinados, onde os escondia e os inumava durante a noite. 10 Ora, aconteceu que um dia, cansado desse trabalho, voltou para a sua casa e deitou-se junto à parede onde adormeceu. 11 Enquanto dormia, caiu-lhe de um ninho de andorinhas esterco quente nos olhos, e ele tornou-se cego. 12 Deus permitiu que lhe acontecesse essa prova, para que a sua paciência, como a do santo homem Jó, servisse de exemplo à posteridade. 13 Como havia sempre temido a Deus, desde a sua infância, e guardado seus mandamentos, ele não se afligiu (nem murmurou) contra Deus por ter sido atingido pela cegueira. 14 Mas perseverou firme no temor de Deus, e continuou a dar-lhe graças em todos os dias de sua vida. 15 Assim como o bem-aventurado Jó foi insultado por outros chefes, assim seus parentes e amigos escarneciam de seu comportamento: 16 Onde está, diziam eles, essa esperança por cujo amor deste esmolas e sepultaste os mortos? 17 Porém Tobit repreendia-os, dizendo: Não faleis assim; 18 somos filhos dos santos (patriarcas), e esperamos aquela vida que Deus há de dar aos que não perdem jamais a sua confiança nele. 19 Ora, Ana, sua mulher, ia todos os dias tecer, e trazia o que ela ganhava com o trabalho de suas mãos. 20 Foi assim que, tendo trazido para casa um cabrito que recebera (como gratificação), 21 seu marido ouviu-o balir e disse: Vê que ele não tenha sido roubado; restitui-o ao seu proprietário, porque não nos é permitido comer, e nem mesmo tocar, o que foi roubado. 22 Ao que lhe respondeu sua mulher com indignação: Tua esperança é manifestamente vã; agora tuas esmolas mostram bem o que valem! Com estas e outras palavras semelhantes ela censurava-o duramente.

3

1 Tobit, então, suspirando em meio de suas lágrimas, pôs-se a orar: 2 Vós sois justo, Senhor! Vossos juízos são cheios de eqüidade, e vossa conduta é toda misericórdia, verdade e justiça. 3 Lembrai-vos, pois, de mim, Senhor! Não me castigueis por meus pecados e não guardeis a memória de minhas ofensas, nem das de meus antepassados. 4 Se fomos entregues à pilhagem, ao cativeiro e à morte, e se nos temos tornado objeto de mofa e de riso para os pagãos entre os quais nos dispersastes, é porque não obedecemos às vossas leis. 5 Agora os vossos castigos são grandes, porque não procedemos segundo os vossos preceitos e não temos sido leais para convosco. 6 Tratai-me, pois, ó Senhor, como vos aprouver; mas recebei a minha alma em paz, porque me é melhor morrer que viver. 7 Aconteceu que, precisamente naquele dia, Sara, filha de Raguel, em Ecbátana na Média, teve também de suportar os ultrajes de uma serva de seu pai. 8 Ela tinha sido dada sucessivamente a sete maridos. Mas logo que eles se aproximavam dela, um demônio chamado Asmodeu os matava. 9 Tendo Sara repreendido a jovem criada por alguma falta, esta respondeu-lhe: Não vejamos jamais filho nem filha nascidos de ti sobre a terra! Foste tu que assassinaste os teus maridos. 10 Queres porventura matar-me, como mataste todos os sete? Ouvindo isso, Sara subiu ao seu quarto e aí ficou três dias completos, sem comer nem beber. 11 E, orando com fervor, ela suplicava a Deus, chorando, que a livrasse dessa humilhação. 12 Ao terceiro dia, acabou sua oração, bendizendo o Senhor desta forma: 13 Deus de nossos pais, que vosso nome seja bendito. Vós, que depois de vos irardes, usais de misericórdia, e no meio da tribulação perdoais os pecados aos que vos invocam. 14 Volto-me para vós, ó Senhor; para vós levanto os meus olhos. 15 Rogo-vos, Senhor, que me livreis dos laços deste opróbrio, ou então que me tireis de sobre a terra! 16 Vós sabeis que eu nunca desejei homem algum, e que guardei minha alma pura de todo o mau desejo. 17 Nunca freqüentei lugares de prazer nem tive comércio com pessoas levianas. 18 E se consenti em casar-me, foi por vosso temor e não por paixão. 19 Foi, sem dúvida, porque eu não era digna deles; ou talvez não eram eles dignos de mim; ou então me destinastes a outro homem. 20 Não está nas mãos do homem penetrar os vossos desígnios. 21 Mas todo aquele que vos honra tem a certeza de que sua vida, se for provada, será coroada; que depois da tribulação haverá a libertação, e que, se houver castigo, haverá também acesso à vossa misericórdia. 22 Porque vós não vos comprazeis em nossa perda: após a tempestade, mandais a bonança; depois das lágrimas e dos gemidos, derramais a alegria. 23 Ó Deus de Israel, que o vosso nome seja eternamente bendito! 24 Estas duas orações foram ouvidas ao mesmo tempo, diante da glória do Deus Altíssimo; 25 e um santo anjo do Senhor, Rafael, foi enviado para curar Tobit e Sara, cujas preces tinham sido simultaneamente dirigidas ao Senhor.

4

1 Tobit, julgando que sua prece tinha sido atendida e que ia morrer, chamou junto de si o seu filho 2 e disse-lhe: Ouve, meu filho, as palavras que te vou dizer, e faze que elas sejam em teu coração um sólido fundamento. 3 Quando Deus tiver recebido a minha alma, darás sepultura ao meu corpo. Honrarás tua mãe todos os dias de tua vida, 4 porque te deves lembrar de quantos perigos ela passou por tua causa (quando te trazia em seu seio). 5 Quando ela, por sua vez, tiver cessado de viver, tu a enterrarás junto de mim. 6 Quanto a ti, conserva sempre em teu coração o pensamento de Deus; guarda-te de consentir jamais no pecado, e de negligenciar os preceitos do Senhor, nosso Deus. 7 Dá esmola dos teus bens, e não te desvies de nenhum pobre, pois, assim fazendo, Deus tampouco se desviará de ti. 8 Sê misericordioso segundo as tuas posses. 9 Se tiveres muito, dá abundantemente; se tiveres pouco, dá desse pouco de bom coração. 10 Assim acumularás uma boa recompensa para o dia da necessidade: 11 porque a esmola livra do pecado e da morte, e preserva a alma de cair nas trevas. 12 A esmola será para todos os que a praticam um motivo de grande confiança diante do Deus Altíssimo. 13 Guarda-te, meu filho, de toda a fornicação: fora de tua mulher, não te autorizes jamais um comércio criminoso. 14 Nunca permitas que o orgulho domine o teu espírito ou tuas palavras, porque ele é a origem de todo o mal. 15 A todo o que fizer para ti um trabalho, paga o seu salário na mesma hora: que a paga de teu operário não fique um instante em teu poder. 16 Guarda-te de jamais fazer a outrem o que não quererias que te fosse feito. 17 Come o teu pão em companhia dos pobres e dos indigentes; cobre com as tuas próprias vestes os que estiverem desprovidos delas. 18 Põe o teu pão e o teu vinho sobre a sepultura do justo; mas não o comas, nem o bebas em companhia dos pecadores. 19 Busca sempre conselho junto ao sábio. 20 Bendize a Deus em todo o tempo, e pede-lhe que dirija os teus passos, de modo que os teus planos estejam sempre de acordo com a sua vontade. 21 Faço-te saber também, meu filho, que quando eras ainda pequenino, emprestei a Gabael de Ragés, cidade da Média, uma soma de dez talentos de prata, cujo recibo tenho guardado comigo. 22 Procura, pois, um meio de ir até lá para receber o sobredito peso de prata, restituindo-lhe o recibo. 23 Procura viver sem cuidados, meu filho. Levamos, é certo, uma vida pobre, mas se temermos a Deus, se evitarmos todo o pecado e vivermos honestamente, grande será a nossa riqueza.

5

1 Então Tobias respondeu a seu pai: Tudo o que me ordenaste, eu o farei, meu pai. 2 Mas estou realmente sem saber como ir buscar esse dinheiro. Gabael não me conhece, e eu tampouco o conheço; que sinal lhe hei de dar? Não conheço nem mesmo o caminho por onde ir a essa terra. 3 Seu pai disse-lhe: Tenho comigo o seu recibo; bastará que lho mostres, para que ele te devolva imediatamente o dinheiro. 4 Vai procurar um homem de confiança que te possa acompanhar, mediante uma retribuição. É preciso que recebas esse dinheiro enquanto ainda estou vivo. 5 Apenas saíra, Tobias encontrou um jovem de belo aspecto, equipado como para uma viagem. 6 Sem saber que se tratava de um anjo de Deus, ele o saudou e disse-lhe: De onde és tu, ó bom jovem? 7 Ele respondeu: Sou israelita. Tobias perguntou-lhe: Conheces porventura o caminho para a Média? 8 Oh, muito!, respondeu ele. Tenho percorrido freqüentemente esse caminho. Hospedei-me em casa de Gabael, nosso compatriota que habita em Ragés, na Média, cidade que está situada na montanha de Ecbátana. 9 Tobias disse-lhe: Rogo-te que esperes por mim, enquanto vou anunciar isto a meu pai. 10 Tendo Tobias entrado e contado o sucedido ao seu pai, este ficou muito admirado e pediu que fizesse entrar o jovem. 11 Ele entrou e saudou a Tobit: A felicidade esteja contigo para sempre! 12 Ao que Tobit respondeu: Que felicidade posso eu ter ainda? Estou nas trevas, sem poder ver a luz do céu. 13 O jovem replicou-lhe: Tem ânimo, porque é fácil a Deus curar-te! 14 Tobit disse-lhe: É verdade que poderás conduzir meu filho à casa de Gabael, em Ragés, na Média? Quando voltares, eu te retribuirei por isso. 15 Então o anjo disse-lhe: Eu o levarei até lá e to reconduzirei. 16 Tobit então perguntou-lhe: Rogo-te que me digas de que família e de que tribo és tu? 17 O anjo respondeu: Que é que procuras: a raça do servo, ou o próprio servo para acompanhar teu filho? 18 Mas, para tranqüilizar-te: eu sou Azarias, filho do grande Ananias. 19 És de família distinta, respondeu Tobit. Rogo-te que não me queiras mal por ter querido conhecer tua origem. 20 O anjo então disse: Conduzirei o teu filho são e salvo, e to trarei de novo são e salvo. 21 Tobit respondeu: Boa viagem! Que Deus esteja em vosso caminho, e que o seu anjo vos acompanhe. 22 Fizeram em seguida suas bagagens, Tobias despediu-se de seu pai e de sua mãe e os dois viajantes partiram. 23 Depois que partiram, sua mãe pôs-se a chorar: Tiraste-nos, disse ela, o bordão de nossa velhice, e o apartaste de nós. 24 Prouvera a Deus que nunca tivesse havido esse dinheiro pelo qual o enviaste. 25 O pouco que temos nos bastava; a nossa riqueza era a vista de nosso filho. 26 Tobit respondeu-lhe: Não chores; nosso filho chegará são e salvo, e voltará também são e salvo para a nossa companhia; tu o verás com os teus olhos. 27 Estou certo de que um bom anjo de Deus o acompanhará e disporá solicitamente tudo o que lhe diz respeito, de modo que ele tenha a alegria de voltar para nós. 28 Ouvindo isso, sua mãe cessou de chorar e calou-se.

6

1 Tobias partiu, pois, seguido de seu cão, e deteve-se na primeira parada à beira do rio Tigre. 2 Descendo ao rio para lavar os pés, eis que um enorme peixe se lançou sobre ele para devorá-lo. 3 Aterrorizado, Tobias gritou, dizendo: Senhor, ele lança-se sobre mim. 4 O anjo disse-lhe: Pega-o pelas guelras e puxa-o para ti. Tobias assim o fez. Arrastou o peixe para a terra, o qual se pôs a saltar aos seus pés. 5 O anjo então disse-lhe: Abre-o, e guarda o coração, o fel e o fígado, que servirão para remédios muito eficazes. Ele assim o fez. 6 A seguir ele assou uma parte da carne do peixe, que levaram consigo pelo caminho. Salgaram o resto, para que lhes bastasse até chegarem a Ragés, na Média. 7 Entretanto, Tobias interrogou o anjo: Azarias, meu irmão, peço-te que me digas qual é a virtude curativa dessas partes do peixe que me mandaste guardar. 8 O anjo respondeu-lhe: Se puseres um pedaço do coração sobre brasas, a sua fumaça expulsará toda espécie de mau espírito, tanto do homem como da mulher, e impedirá que ele volte de novo a eles. 9 Quanto ao fel, pode-se fazer com ele um ungüento para os olhos que têm uma belida, porque ele tem a propriedade de curar. 10 Em seguida Tobias disse-lhe: Onde queres que pousemos? 11 Há aqui, respondeu o anjo, um homem de tua tribo e de tua família, chamado Raguel, que tem uma filha chamada Sara; além dela não tem mais filha. 12 Todos os seus bens te devem pertencer: mas é preciso que a recebas por mulher. 13 Pede-a, pois, ao seu pai, e ele ta dará por mulher. 14 Tobias replicou: Ouvi dizer que ela já teve sete maridos, e que todos morreram. Diz-se mesmo que foi um demônio que os matou, 15 por isso eu temo que o mesmo venha a me acontecer, a mim que sou filho único, e desse modo faça descer lamentavelmente a velhice de meus pais à habitação dos mortos. 16 O anjo respondeu-lhe: Ouve-me, e eu te mostrarei sobre quem o demônio tem poder: 17 são os que se casam, banindo Deus de seu coração e de seu pensamento, e se entregam à sua paixão como o cavalo e o burro, que não têm entendimento: sobre estes o demônio tem poder. 18 Tu, porém, quando te casares e entrares na câmara nupcial, viverás com ela em castidade durante três dias, e não vos ocupareis de outra coisa senão de orar juntos. 19 Na primeira noite, queimarás o fígado do peixe, e será posto em fuga o demônio. 20 Na segunda noite, serás admitido na sociedade dos santos patriarcas. 21 Na terceira noite, receberás a bênção que vos dará filhos cheios de saúde. 22 Passada esta terceira noite, aproximar-te-ás da jovem no temor ao Senhor, mais com o desejo de ter filhos que o ímpeto da paixão. Obterás assim para os teus filhos a bênção prometida à raça de Abraão.

7

1 Chegaram, pois à casa de Raguel, que os recebeu cordialmente. 2 Vendo Tobias, Raguel disse a Edna, sua mulher: Como este jovem é parecido com meu primo. 3 Dito isto, perguntou De onde viestes, ó jovens? Eles responderam: Somos da tribo de Neftali, dos deportados de Nínive. 4 Raguel prosseguiu: Conheceis porventura o meu primo Tobit? Certamente, responderam. 5 E como Raguel começasse a elogiar Tobit, o anjo disse-lhe: Esse Tobit de que falas é o pai deste jovem 6 Raguel lançou-se então ao pescoço de Tobias, beijou-o com lágrimas, e disse: 7 Abençoado sejas, meu filho, porque és filho de um homem de bem! 8 Edna, sua mulher, e Sara, sua filha, tinham também os olhos cheios de lágrimas. 9 Depois que conversaram, Raguel mandou matar um carneiro para preparar um jantar. E quando lhes rogava que tomassem lugar à mesa, 10 Tobias disse-lhe: Não comerei nem beberei aqui hoje, antes que me tenhas prometido conceder o que te vou pedir: dá-me Sara, tua filha, (por mulher). 11 Estas palavras encheram Raguel de espanto, pensando no que tinha acontecido aos sete maridos que se tinham aproximado dela, e começou a temer que tal desgraça se repetisse mais uma vez. E como ele hesitasse em dar uma resposta a Tobias, 12 o anjo disse-lhe: Não temas dar-lhe tua filha, porque é deste piedoso servo de Deus que ela deve ser mulher. Por isso nenhum outro pôde tê-la. 13 Então Raguel disse: Não tenho mais dúvidas de que Deus admitiu em sua presença minhas lágrimas. 14 Estou persuadido de que ele vos fez vir à minha casa unicamente para que minha filha desposasse um seu parente, segundo a lei de Moisés. Não temas: eu ta hei de dar. 15 E, tomando a mão direita de sua filha, pô-la na de Tobias, dizendo: Que o Deus de Abraão, o Deus de lsaac, o Deus de Jacó esteja convosco; que ele vos una e derrame sobre vós a sua bênção. 16 Tomou em seguida o papel, e redigiram o ato do matrimônio. 17 E celebraram alegremente uma festa, agradecendo a Deus. 18 Raguel chamou então sua mulher e mandou-lhe que preparasse outro aposento. 19 Ela introduziu ali Sara, sua filha, e esta se pôs a chorar. 20 Mas ela disse-lhe: O Senhor do céu te encha de alegria pelos males que tens sofrido.

8

1 Depois do jantar, introduziram o jovem no aposento de Sara. 2 E Tobias, fiel às indicações do anjo, tirou do seu alforje uma parte do fígado e o pôs sobre brasas acesas. 3 Nesse momento, o anjo Rafael tomou o demônio e prendeu-o no deserto do Alto Egito. 4 Então Tobias encorajou a jovem com estas palavras: Levanta-te, Sara, e roguemos a Deus, hoje, amanhã e depois de amanhã. Estaremos unidos a Deus durante essas três noites. Depois da terceira noite consumaremos nossa união; 5 porque somos filhos dos santos (patriarcas), e não nos devemos casar como os pagãos que não conhecem a Deus. 6 Levantaram-se, pois, ambos, e oraram juntos fervorosamente para que lhes fosse conservada a vida. 7 Tobias disse: Senhor Deus de nossos pais, bendigam-vos os céus, a terra, o mar, as fontes e os rios, com todas as criaturas que neles existem. 8 Vós fizestes Adão do limo da terra, e destes-lhe Eva por companheira. 9 Ora, vós sabeis, ó Senhor, que não é para satisfazer a minha paixão que recebo a minha prima como esposa, mas unicamente com o desejo de suscitar uma posteridade, pela qual o vosso nome seja eternamente bendito. 10 E Sara acrescentou: Tende piedade de nós, Senhor; tende piedade de nós, e fazei que cheguemos juntos a uma ditosa velhice! 11 Ora, ao cantar do galo, Raguel chamou os seus criados e foram juntos cavar uma sepultura. 12 Quem sabe, dizia ele, se não aconteceu a esse o mesmo que aos outros sete homens que se aproximaram dela? 13 Cavada a fossa, voltou para junto de sua mulher e disse: 14 Manda uma de tuas escravas ver se ele morreu, a fim de que eu possa enterrá-lo antes de clarear o dia. 15 Ela o fez. E a serva, tendo entrado no aposento, encontrou-os bem vivos, dormindo juntos. 16 Ela voltou e deu essa boa nova; e Raguel com sua mulher louvaram o Senhor, dizendo: 17 Nós vos bendizemos, Senhor Deus de Israel, porque não se realizou o que temíamos. 18 Usastes conosco de vossa misericórdia, expulsando para longe de nós o inimigo que nos perseguia, 19 e tivestes piedade de dois filhos únicos. Fazei, ó Senhor, que eles vos bendigam sempre mais, e vos ofereçam um sacrifício de louvor pela sua conservação, a fim de que todas as nações pagãs conheçam que vós sois o único Deus de toda a terra. 20 Raguel ordenou imediatamente aos seus criados que enchessem de novo, antes que clareasse o dia, a cova que haviam feito. 21 Disse à sua mulher que aprontasse um banquete e preparasse todos os víveres necessários aos viajantes. 22 Mandou também matar duas vacas gordas e quatro carneiros, destinados a um festim para todos os seus vizinhos e amigos. 23 E instou com Tobias que ficasse com ele duas semanas. 24 Presenteou Tobias com a metade de seus bens, e redigiu um documento estipulando que a outra metade se tornaria também, depois de sua morte, propriedade de Tobias.

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1 Tobias chamou então a si o anjo, que ele julgava ser um homem, e disse-lhe: Azarias, meu irmão, peço-te que me ouças. 2 Ainda que eu me fizesse teu escravo, não seria isso uma retribuição digna por teus cuidados. 3 Não obstante, vou pedir-te ainda que tomes contigo cavalos e servos e vás à casa de Gabael, em Ragés, na Média. Devolve-lhe o seu recibo e recebe o dinheiro. Convida-o também para o meu casamento. 4 Bem sabes que meu pai conta os dias; se eu tardar um dia mais, ele sofrerá com isso. 5 Vês, por outro lado, como Raguel insistiu em que eu me demorasse aqui, e não lho posso recusar. 6 Rafael tomou então quatro servos de Raguel, e dois camelos, e partiu para Ragés, na Média. Encontrando Gabael, entregou-lhe o recibo e recebeu dele todo o dinheiro. 7 Contou-lhe toda a aventura de Tobias e fê-lo vir consigo às núpcias. 8 Tobias estava à mesa, quando Gabael entrou na casa de Raguel. Lançaram-se nos braços um do outro, e Gabael louvava a Deus com lágrimas (de alegria). 9 Que o Deus de Israel te abençoe, disse ele, porque és filho de um homem de bem, justo, piedoso e esmoler. 10 Abençoe também a tua mulher e os vossos pais; 11 possais ver os vossos filhos e os filhos de vossos filhos, até a terceira e a quarta gerações! 12 Bendita seja a vossa raça pelo Deus de Israel que reina em toda a eternidade! Amém, responderam eles. E todos se puseram à mesa. E foi no temor do Senhor que celebraram o festim das núpcias.

10

1 O casamento de Tobias tinha retardado a sua volta. Seu pai, muito inquieto, dizia: Por que será que meu filho tarda tanto? Por que se demora lá? 2 Teria Gabael porventura falecido, de sorte que não haveria ninguém para restituir o dinheiro? 3 Ele entristeceu-se extremamente com isso, assim como Ana, sua mulher, e ambos se puseram a chorar, porque seu filho não voltava no tempo previsto. 4 Sua mãe, principalmente, derramava lágrimas inesgotáveis, e dizia: Ai, ai, meu filho! Por que te mandamos lá? Tu que eras a luz de nossos olhos, o bordão de nossa velhice, a consolação de nossa vida e a esperança de nossa raça! 5 Nós, que em ti só tínhamos tudo, não te devíamos ter deixado ir para longe de nós. 6 Tobit dizia-lhe: Cala-te, não te aflijas! Nosso filho está passando bem; aquele homem com quem nós o mandamos é um homem de confiança. 7 Mas ela continuava inconsolável: todos os dias ela saía para fora, olhava para todos os lados, e corria por todos os caminhos, por onde poderia voltar o filho, a fim de vê-lo ao longe, se fosse possível. 8 Entretanto, Raguel dizia ao seu genro: Fica aqui, mandarei notícias a Tobit, teu pai, a respeito de tua saúde. 9 Mas Tobias disse-lhe: Sei que meu pai e minha mãe contam os dias e que se acham em grande tormento. 10 Raguel insistiu ainda, apresentando muitas razões, mas Tobias não quis ouvi-lo. Então entregou-lhe Sara com a metade de seus bens em servos, servas, rebanhos, camelos, vacas, e em grande soma de dinheiro. Despediu-o cheio de saúde e alegria, 11 dizendo-lhe: Que o santo anjo do Senhor vos acompanhe pelo caminho, e vos conduza sãos e salvos. Faço votos de que encontreis tudo em ordem em casa de vossos pais, e que eu possa ver os vossos filhos antes de morrer! 12 Os pais beijaram sua filha e deixaram-na partir, 13 recomendando-lhe que honrasse seus sogros, amasse o seu marido, educasse bem a sua família e governasse a sua casa, conservando-se ela mesma irrepreensível.

11

1 De regresso, chegaram no décimo primeiro dia de viagem a Caserim, que está a meio caminho na direção de Nínive. 2 O anjo disse então: Tobias, meu irmão, tu sabes em que estado deixaste o teu pai. 3 Se for do teu agrado, poderíamos tomar a dianteira, deixando a tua mulher, os servos e os rebanhos seguirem devagar pelo caminho. 4 Tendo Tobias concordado com esse parecer, Rafael disse-lhe: Leva contigo o fel do peixe, porque vais precisar dele. Tomou, pois, Tobias o fel e partiram. 5 Entretanto, Ana ia todos os dias assentar-se perto do caminho, no cimo de uma colina, de onde podia ver ao longe. 6 Ela espreitava ali a volta de seu filho, quando o viu de longe que voltava e o reconheceu. Correu ao seu marido e disse-lhe: Eis que aí vem o teu filho! 7 Ora, Rafael tinha dito a Tobias: Logo que entrares em tua casa, adorarás o Senhor teu Deus e dar-lhe-ás graças. Irás em seguida beijar teu pai, 8 e pôr-lhe-ás imediatamente nos olhos o fel do peixe que tens contigo. Sabe que seus olhos se abrirão instantaneamente e que teu pai verá a luz do céu. E, vendo-te, ficará cheio de alegria. 9 O cão, que os tinha acompanhado durante a viagem, correu então adiante como um mensageiro, e mostrava o seu contentamento fazendo festas e abanando a cauda. 10 O pai cego levantou-se e pôs-se a correr, tropeçando. Dando então a mão a um criado, foi ao encontro de seu filho. 11 Abraçou-o e beijou-o, fazendo o mesmo sua mulher, e ambos começaram a chorar de alegria. 12 Só se assentaram depois de terem adorado e agradecido a Deus. 13 Tobias tomou então o fel do peixe e pô-lo nos olhos de seu pai. 14 Depois de ter esperado cerca de meia hora, começou a sair-lhe dos olhos uma belida branca como a membrana de um ovo. 15 Tobias tomou-a e a arrancou dos olhos de seu pai, o qual recobrou instantaneamente a vista. 16 E louvaram a Deus, ele, sua mulher e todos os que o conheciam. 17 Bendigo-vos, Senhor Deus de Israel, dizia ele, porque depois de me terdes provado, me salvastes: eis que vejo o meu filho Tobias! 18 Sete dias depois, chegou também Sara, mulher de seu filho, com todos os seus servos, em boa saúde, com os rebanhos, os camelos, o grande dote da esposa, e mais o dinheiro recebido de Gabael. 19 Tobias contou a seus pais todos os benefícios que Deus lhe tinha feito por intermédio de seu guia. 20 Chegaram também Aquior e Nabat, primos de Tobit, felizes de poderem congratular-se com ele pelos benefícios que Deus lhe tinha prodigalizado. 21 Durante sete dias houve festa e grande regozijo.

12

1 Então Tobit chamou seu filho e disse-lhe: Que havemos nós de dar a esse santo homem que te acompanhou? 2 Meu pai, respondeu ele, que gratificação lhe havemos de dar? Que presente poderá igualar os seus benefícios? 3 Ele levou-me e trouxe-me em boa saúde; foi receber o dinheiro de Gabael; fez-me ter uma mulher e afugentou dela o demônio; encheu de alegria os seus pais; livrou-me de ser devorado pelo peixe, e fez-te rever a luz do céu; enfim, ele cumulou-nos de toda a sorte de benefícios. Que presente poderia igualar a tudo isso? 4 Rogo-te, meu pai, que lhe peças se digne aceitar a metade de tudo o que trouxemos. 5 Chamaram-no, pois, o pai e o filho, e, tomando-o à parte, rogaram-lhe que aceitasse a metade de tudo o que tinham trazido. 6 Então ele falou-lhes discretamente: Bendizei o Deus do céu, e dai-lhe glória diante de todo o ser vivente, porque ele usou de misericórdia para convosco. 7 Se é bom conservar escondido o segredo do rei, é coisa louvável revelar e publicar as obras de Deus. 8 Boa coisa é a oração acompanhada de jejum, e a esmola é preferível aos tesouros de ouro escondidos, 9 porque a esmola livra da morte: ela apaga os pecados e faz encontrar a misericórdia e a vida eterna; 10 aqueles, porém, que praticam a injustiça e o pecado são os seus próprios inimigos. 11 Vou descobrir-vos a verdade, sem nada vos ocultar. 12 Quando tu oravas com lágrimas e enterravas os mortos, quando deixavas a tua refeição e ias ocultar os mortos em tua casa durante o dia, para sepultá-los quando viesse a noite, eu apresentava as tuas orações ao Senhor. 13 Mas porque eras agradável ao Senhor, foi preciso que a tentação te provasse. 14 Agora o Senhor enviou-me para curar-te e livrar do demônio Sara, mulher de teu filho. 15 Eu sou o anjo Rafael, um dos sete que assistimos na presença do Senhor. 16 Ao ouvir estas palavras, eles ficaram fora de si, e, tremendo, prostraram-se com o rosto por terra. 17 Mas o anjo disse-lhes: A paz seja convosco: não temais. 18 Quando eu estava convosco, eu o estava por vontade de Deus: rendei-lhe graças, pois, com cânticos de louvor. 19 Parecia-vos que eu comia e bebia convosco, mas o meu alimento é um manjar invisível, e minha bebida não pode ser vista pelos homens. 20 É chegado o tempo de voltar para aquele que me enviou: vós, porém, bendizei a Deus e publicai todas as suas maravilhas. 21 Acabando de dizer estas palavras, desapareceu diante deles, e eles não viram mais nada. 22 Durante três horas permaneceram prostrados por terra, bendizendo a Deus. Depois levantaram-se e publicaram todas essas maravilhas.

13

1 Tobit tomou, então, a palavra e, num transporte de alegria, escreveu esta prece: Sois grande, Senhor, na eternidade, vosso reino estende-se a todos os séculos. 2 Porque vós provais e, em seguida, salvais. Conduzis a profundos abismos e deles tirais; e não há quem possa escapar à vossa mão. 3 Celebrai o Senhor, filhos de Israel. Louvai-o em presença das nações. 4 Porque, se ele vos dispersou entre povos que o não conhecem, foi para que publiqueis as suas maravilhas e lhes façais reconhecer que não há outro Deus onipotente senão ele. 5 Castigou-nos por causa das nossas iniqüidades, mas nos salvará por sua misericórdia. 6 Considerai, agora, o que fez por nós, e bendizei-o com temor e tremor; por vosso comportamento, glorificai o rei dos séculos. 7 Quanto a mim, louvá-lo-ei na terra do meu cativeiro, porque manifestou sua majestade sobre um povo criminoso. 8 Convertei-vos, pecadores, e praticai a justiça diante de Deus, na confiança que vos fará misericórdia. 9 Nele me alegrarei de todo o coração. 10 Dai graças ao Senhor, vós todos, seus eleitos; celebrai dias de alegria e rendei-lhe louvores. 11 Jerusalém, cidade santa! Deus te castigou por teu mau procedimento. 12 Confessa a Deus como convém e louva o rei dos séculos, para que ele reedifique o teu santuário. Reúna em ti os que foram deportados, e possas alegrar-te sem fim! 13 Hás de refulgir qual esplêndida luz, e todos os povos da terra te venerarão. 14 Nações de longe virão a ti, com presentes, adorar o Senhor em teus muros, e considerarão o teu solo como um santuário. 15 Porque em teu recinto invocarão o grande nome. 16 Maldito seja quem te desprezar; desonrado, quem te caluniar; bendito seja quem te reconstruir! 17 Alegrar-te-ás nos teus filhos, porque serão todos abençoados, e se reunirão junto do Senhor. 18 Ditosos todos os que te amam: na tua paz encontrarão sua alegria. 19 Ó minha alma, bendize ao Senhor, porque o Senhor, nosso Deus, livrou Jerusalém de todas as suas tribulações. 20 Feliz serei, se ficar um homem de minha raça para ver o esplendor de Jerusalém: 21 suas portas serão reconstruídas com safiras e esmeraldas, seus muros serão inteiramente de pedras preciosas, 22 Suas praças serão pavimentadas de mosaicos e rubis, e em suas ruas cantarão: Aleluia! 23 Bendito seja Deus que te restituiu tal esplendor! Que ele reine sobre ti eternamente!

14

1 Tal foi o cântico de Tobit. Depois que recobrou a vista, viveu (ainda) Tobit quarenta e dois anos, e viu os filhos de seus netos. 2 (Morreu) com a idade de cento e dois anos, e foi sepultado com muita honra em Nínive. 3 Aos cinqüenta e seis anos tornou-se cego, e recobrou a vista aos sessenta. 4 Todo o resto de sua vida se passou na alegria; e a paz de que gozou foi em proporção aos seus progressos no temor a Deus. 5 Quando veio a hora de sua morte, chamou à sua presença o seu filho Tobias, com os sete filhos deste e disse-lhes: 6 Está próxima a ruína de Nínive, porque a palavra de Deus não falha; os nossos irmãos, que foram dispersos para longe da pátria de Israel, voltarão para ela. 7 Todo o seu país deserto será repovoado, e a casa de Deus, que ali foi queimada, será reconstruída. Todos os homens que temem a Deus voltarão novamente para ela 8 e as nações pagãs abandonarão os seus ídolos e virão habitar em Jerusalém, 9 e todos os reis da terra se alegrarão de apresentar suas homenagens ao rei de Israel. 10 Ouvi, pois, o vosso pai, meus filhos. Servi fielmente o Senhor e procurai fazer o que lhe é agradável. 11 Recomendai aos vossos filhos que pratiquem a justiça, sejam caridosos e esmoleres, que se lembrem de Deus e o bendigam em todo o tempo, fielmente, e com todas as suas forças. 12 E agora, meus filhos, ouvi-me: não fiqueis aqui; mas, no dia em que tiverdes enterrado vossa mãe junto de mim no mesmo túmulo, ponde-vos logo a caminho para deixar estes lugares; 13 porque eu vejo que a iniqüidade desta cidade será a causa de sua queda. 14 Depois da morte de sua mãe, Tobias partiu de Nínive com sua mulher, seus filhos e seus netos, e voltou para a casa de seus sogros. 15 Encontrou-os em perfeita saúde, numa ditosa velhice. Teve para com eles todas as atenções, e fechou-lhes os olhos. Tomou posse de toda a herança da casa de Raguel, e viu os filhos de seus filhos até a quinta geração. 16 Morreu com alegria, tendo vivido noventa e nove anos no temor ao Senhor, e seus filhos sepultaram-no. 17 Toda a sua parentela e toda a sua descendência perseveraram numa vida íntegra e santo procedimento, de modo que foram amados tanto por Deus como pelos homens e por todos os seus compatriotas.



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